Wonder resgata o Mario 2D que não víamos com essa inovação desde os anos 90

Já se passaram 11 anos desde o lançamento do último jogo 2D de Super Mario. Para muitos fãs, essa espera parece ainda maior quando pensamos na essência que definiu a série nos anos 90. As aventuras do encanador e seus amigos evoluíram, explorando o 3D e, em paralelo, tornando os jogos bilaterais mais padronizados e simples em busca de um alcance maior. Com Super Mario Bros. Wonder, a Nintendo parece evocar um campeão veterano que, após anos como mestre, decide vestir o uniforme e retornar à arena para lembrar a todos o motivo de sua grandeza. Esta análise é produzida pela equipe Coelho no Japão, baseada no vídeo original do canal no Youtube. Tenha uma ótima leitura!
Mario? Que Mario?

Para entender o impacto de Wonder, é preciso revisitar a pergunta: por que Mario é o ícone que é? Embora sua facilidade de acesso seja um fator, a resposta vai muito além. Hideo Kojima, uma das mentes mais importantes dos games, comparou o primeiro Super Mario Bros. ao Big Bang da indústria. Antes dele, jogos eram, em essência, brincadeiras ou adaptações. Com a genialidade de Shigeru Miyamoto, a Nintendo revolucionou ao criar não apenas um jogo, mas um universo cativante com heróis, vilões, habitantes e um mundo coeso. Tudo isso, temperado com uma criatividade japonesa cômica, carismática e psicodélica. Quem mais teria um herói que cresce comendo cogumelos, inimigos em nuvens atirando animais pontiagudos ou tartarugas com asas? Essa “maluquice” deu tão certo que se tornou o pilar da indústria, a ponto de Keiji Inafune, co-criador de Mega Man, declarar que Mario é uma “bíblia de desenvolvimento” para criadores de jogos.
Ao longo do tempo, a indústria passou a ver Mario como um padrão, o básico. No entanto, a verdadeira essência de Mario nunca foi ser comum, mas sim sair do comum, “viajar na maionese” e surpreender. E é exatamente isso que Super Mario Bros. Wonder resgata.
Uma jornada de surpresas no Reino Flor

A grande sacada que permite esse resgate é a mudança de cenário: a aventura se passa no Reino Flor. Trocar o familiar Reino dos Cogumelos permite a criação de inúmeras coisas novas, introduzindo inimigos, cenários e temas musicais inéditos, embora mantendo uma mistura do novo com o conhecido. Mas o Reino Flor é apenas o palco perfeito para a principal inovação de Wonder: as Flores Fenomenais. Esses itens são verdadeiros “cheques em branco” para os desenvolvedores. Ao tocá-las, elas iniciam eventos inesperados e muitas vezes surreais. A gravidade pode mudar, inimigos ficam gigantes, você pode sair voando em um dragão – tudo pode acontecer. Essa mecânica funciona como uma carta curinga, a desculpa perfeita para Mario ser Mario e surpreender o jogador a cada nova fase.
Enquanto outras franquias usam o conceito de multiverso para justificar eventos ilógicos, muitas vezes criando confusão, a Nintendo simplifica. Em Wonder, um item do reino tem a função declarada de alterar a realidade. Isso faz com que qualquer coisa inesperada e ilógica simplesmente faça sentido dentro do universo do jogo. É a genialidade na simplicidade. As Flores Fenomenais e as Sementes Fenomenais (coletadas após esses eventos, essenciais para progredir) se tornam talvez o melhor tipo de item coletável. Você não os busca apenas por colecionismo ou progressão, mas por um genuíno anseio de descobrir “o que será que eles aprontaram dessa vez?”. E pode ter certeza que eles terão algo surpreendente para mostrar.

Apesar de abraçar o cômico e o ilógico, Wonder é um jogo extremamente bem feito em seus fundamentos técnicos. A física do jogo é simplesmente perfeita. O controle do pulo, a movimentação, a resposta rápida aos comandos – morrer é, em grande parte, culpa do jogador, não do jogo. É uma física que recompensa a habilidade e faz o jogador sentir que, com treino, pode dominar a movimentação. As animações dos personagens são muito expressivas, desde os pulos e corridas até a entrada nos canos, e até os Goombas demonstram expressões de surpresa. Detalhes como as animações ao pegar um power-up fazem toda a diferença.

O design de som do game é, talvez, o melhor da série, incluindo os jogos 3D. Além das mudanças de áudio esperadas (como som abafado na água), a Nintendo se superou. O power-up de Elefante, por exemplo, muda a música para um arranjo com instrumentos graves de metal. Movimentos como a tradicional “bundada” no chão ativam sons específicos. Diferentes personagens e power-ups possuem sons de pulo distintos. E, claro, os efeitos das Flores Fenomenais também influenciam o áudio. Jogar este game sem volume seria um pecado. A dublagem das plantas falantes em português, em particular, é de boa qualidade, não se torna irritante com o tempo e inclui piadas divertidas. Essas plantas inesperadamente contribuem muito para a experiência. A tradução geral do jogo também é ótima, mostrando que o trabalho de um time brasileiro em conjunto com os desenvolvedores integrou o idioma ao desenvolvimento.
Analisando a gameplay de Super Mario Wonder

A marca registrada da Nintendo é o gameplay impecável. Em Wonder, pouquíssimas fases são genéricas; todas têm propósito, tema e objetivo bem definidos. Algumas focam na fase em si, outras em apresentar um novo inimigo, e muitas têm a Flor Fenomenal como foco principal. “As fases funcionam como um grande “livro de receitas” de design”, como disse Keiji Inafune sobre os jogos de Mario em geral. As Insígnias adicionam uma camada estratégica, concedendo diversos tipos de poderes. Elas “negociam” com o jogador: Insígnias padrão aprimoram habilidades (pulo alto, corrida rápida, hookshot, paraglider), geralmente obtidas em desafios específicos. Insígnias azuis são facilitadoras (começar com cogumelo, salvar de quedas, detectar itens), tornando a fase menos desafiadora. Insígnias brilhantes são difíceis de controlar, mas dão poderes interessantes (como invisibilidade), quase desafiando o jogador.
A versatilidade também se reflete nos personagens jogáveis. Humanos (e Toads?) são o padrão. Ledrão (Nabbit) não leva dano de inimigos, mas não usa power-ups, limitando certas interações. Os Yoshis são considerados os mais “apelões”, pois, embora também não usem power-ups, têm a língua que engole e um impulso no ar, além de não levarem dano. Essa variedade permite diferentes abordagens, equilibrando facilidade com possibilidades de gameplay.

Wonder, contudo, não é isento de ressalvas. A arte do jogo é muito bonita, mas talvez não atinja o mesmo impacto visual revolucionário dos clássicos lançados no fim de vida de consoles anteriores, como Super Mario Bros. 3 no NES ou Yoshi’s Island no SNES. Seu visual é agradável, mas não transmite a mensagem de grandeza e inovação que o gameplay proporciona. A música é boa, mas não deve ser lembrada como uma das melhores trilhas sonoras do Switch. O jogo interpreta a fórmula 2D de Super Mario Bros. de forma excelente, mas ainda se limita a essa fórmula tradicional: passa fase, ganha item, chefe, muda de mundo, repete, chefe final.
Embora arrisque com um mapa central, não há algo verdadeiramente impressionante nesse sentido. Isso pode agradar quem busca a experiência clássica, mas pode desapontar quem esperava algo mais revolucionário, próximo ao que acontece nos jogos 3D da série.

A duração do jogo, se focado apenas em chegar aos créditos, não é longa, podendo ser concluído em cerca de 5 horas. Correr significa pular muitas fases e eventos de Flores Fenomenais. No entanto, há muito mais a fazer para alcançar 100%. Cada fase tem um mastro para alcançar o topo, 3 moedas roxas e 2 ou 3 sementes fenomenais (uma da flor, uma do fim da fase, uma de caminho alternativo). Encontrar todas as fases por si só é um desafio, com mundos escondendo caminhos alternativos, exigindo mais sementes ou atenção a detalhes no mapa. Embora o tempo para 100% não possa ser cravado com exatidão (devido ao tempo limitado para análise), estima-se que pule para pelo menos 20 horas sem guia.
A dificuldade em Wonder tem pouca variação geral. O sistema de estrelas para indicar a dificuldade por fase não é totalmente preciso, com fases de 5 estrelas que podem ser fáceis e fases de 1 estrela com segredos desafiadores. No entanto, o jogo não entrega tudo de bandeja; power-ups e insígnias não tornam tudo trivial, como em títulos anteriores. A dificuldade é mais uniforme: o começo é um pouco mais desafiador que New Super Mario Bros. U, e o final é mais tranquilo. O verdadeiro desafio, além de algumas fases raras de 5 estrelas e desafios de insígnia no pós-jogo, reside na descoberta de segredos: coletáveis, fases escondidas, rotas alternativas e recompensas variadas.

Em um mundo onde complexidade nem sempre significa profundidade, Mario Wonder nos convida a redescobrir a pura alegria de jogar.
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Análise em texto elaborada com base no roteiro do vídeo produzido por Pedroka em conjunto com a equipe Coelho no Japão, contando com revisão e aprovação de Rodrigo Coelho.
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