Review | Fairy Fencer F: Refrain Chord

Desenvolvedora: Sting, Compile Heart
Publicadora: Idea Factory International
Data de lançamento: 25 de abril, 2023
Preço: R$ 260,99
Formato: Físico/Digital

Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Idea Factory International.

Revisão: Paulo Cézar

Em 2013, quando a Compile Heart decidiu expandir um pouco mais o seu repertório de RPGs japoneses, a empresa criou a marca Galapagos RPG. O primeiro jogo lançado dentro da proposta dessa marca foi Fairy Fencer F, incluindo parcerias com Yoshitaka Amano e Nobuo Uematsu na sua composição. Brincando um pouquinho com alguns elementos sombrios no seu teaser e em partes da trama, o jogo fugia do escopo de ser totalmente centrado no fanservice, mas ainda mantendo um estilo bem japonês que se assemelha com a escrita de light novels de fantasia.

Com Fairy Fencer F: Refrain Chord, a empresa inaugura o “Galapagos RPG evolve”, prometendo evoluir as ofertas da marca novamente. Desenvolvido em uma parceria entre a empresa e a Sting, o que temos é um RPG tático curioso e agradável que se mantém dentro das expectativas do que a desenvolvedora normalmente trabalha.

Fadas, fúrias e musas

Embora Refrain Chord seja uma sequência de Fairy Fencer F, o jogo não é exatamente uma continuação tradicional. Na verdade, o título apresenta uma espécie de história alternativa que começa após Fang já ter reunido um pequeno grupo de Fencers (guerreiros poderosos capazes de sincronizar suas habilidades com parceiros Fairies) em sua busca pelas armas lendárias chamadas Furies. O seu objetivo é ajudar a sua parceira Eryn a recuperar suas memórias e reviver a Deusa que lutou incansavelmente contra o Deus Vil.

Para quem já jogou o título anterior, vale destacar que algumas reviravoltas são repetidas e os personagens agem como se elas nunca tivessem acontecido. A experiência soa como se fosse um reboot, reaproveitando a ambientação e personagens na tentativa de criar um novo jogo, que mesmo tendo pontos em comum, altera significativamente a progressão narrativa de forma mais ampla com novos personagens e eventos. Há, porém, algumas leves pistas desde cedo de que há algo a mais nessa história.

Em destaque, temos a presença de duas “musas”: Fleur e Glace. Essas personagens possuem um poder especial de usar canções como forma de fortalecer seus aliados e manipular as pessoas ao seu redor. Enquanto Fleur é uma garota pacífica que decide ajudar os protagonistas em seus momentos de apuros e se torna uma amiga muito importante para a equipe, Glace se une à Dorfa, uma grande corporação que antagoniza os personagens principais, tendo a ambição de coletar as Furies para si e um grupo de Fencers determinados a fazer qualquer coisa para garantir as suas ambições.

De forma geral, ao pensar na trama, o que temos é similar a uma light novel de fantasia. Os personagens são carismáticos e os seus trejeitos são bem marcados sem acabar ficando totalmente genéricos graças às boas atuações dos seus dubladores e ao estilo visual agradável da ilustradora Tsunako. A trama tem uma grande dose de piadas, com os personagens até ocasionalmente quebrando a quarta parede, mas há também momentos mais sérios em que até mesmo o preguiçoso e egocêntrico protagonista Fang mostra que consegue oferecer uma ambientação interessante aos personagens, agindo de forma séria nos momentos que se mostram necessários a trama.

Quem já jogou o Fairy Fencer F original ou sua versão expandida Advent Dark Force deve estranhar a sensação de retcon, enquanto os novatos devem sentir um pouco de estranheza no início porque a história começa pelo meio. Pessoalmente, me diverti bastante com a proposta e achei a narrativa charmosa e os personagens carismáticos o suficiente para fazer a trama funcionar.

Batalhas de espadas, monstros e divas

Enquanto o Fairy Fencer F original era um RPG baseado em turnos, Refrain Chord é um jogo tático. Cabe ao jogador comandar uma equipe de até seis personagens, movimentando-os por um tabuleiro recortado em quadradinhos. Conforme o jogador avança pela história, novas unidades aliadas são obtidas, ampliando o leque de opções para o combate.

As unidades podem se movimentar, atacar, usar habilidades que consomem SP ou itens consumíveis. Porém, as musas possuem um efeito especial: elas são capazes de encantar os seus arredores com suas canções, oferecendo um boost para os atributos dos personagens, aumentando a chance de counter, curando os aliados, etc.

Os efeitos dessas músicas são limitados a um número específico de turnos, sendo necessário restaurar a energia de Fleur depois para que ela possa usar novamente uma canção. Enquanto canta, Fleur pode modular sua voz para atingir uma área maior ou aumentar a intensidade do seu poder.

Além disso, as canções de Fleur e Glace podem atingir um efeito de ressonância que amplia os seus efeitos em áreas que estão sob o efeito de ambas. Graças a essa mecânica, há um certo nível de recompensa no risco de deixar o inimigo ganhar vantagens também, afinal a vantagem da ressonância é bem considerável (por exemplo, triplicando o ganho de ataque dos aliados que estão nesses pontos de interseção).

Outros elementos especiais do combate incluem a Fairize e a Avalanche Gauge. Conforme as unidades atacam os inimigos, irão encher essas duas barras, sendo a primeira individual e a segunda coletiva. Com a Fairize disponível, o jogador pode transformar aquela unidade para que ela fique temporariamente mais forte e possa utilizar algumas habilidades especiais de alto dano.

Já a Avalanche Gauge permite dois tipos de ataque combinado dependendo das circunstâncias da batalha. Caso as canções de Fleur não estejam em efeito, o jogador pode reunir um grupo seleto de aliados próximos à unidade que ativa o golpe para atacar os inimigos nas proximidades.

Porém, é com Fleur cantando que temos acesso ao seu verdadeiro potencial, o Avalanche Harmonics, que atinge praticamente todos os arredores da área de efeito da voz da musa. O resultado é um golpe com uma amplitude muito grande, especialmente se o jogador utilizar os turnos de Fleur para expandir a sua área.

Explorar essas mecânicas para extrair o máximo do combate é uma parte fundamental da experiência, mas infelizmente também se mostra uma limitação de design do jogo. Toda batalha acaba dependendo das musas, forçando Glace a estar sempre presente em combate, até mesmo quando nem faria sentido que a personagem estivesse lá.

Nesse sentido, é facilmente perceptível a discrepância entre gameplay e narrativa durante vários momentos. Para dar um exemplo bem simples, em um determinado momento um personagem inimigo estaria atacando a equipe sozinho, mas mesmo assim, é apresentado com uma grande gangue e Glace como suporte. Não faz nenhum sentido e é apenas uma forma de manter a estrutura de batalha engessada, o que só contribui para deixar o jogo mais repetitivo e formulaico em termos de gameplay.

Abundância de conteúdo

Fora das batalhas, o jogador tem uma grande quantidade de quests opcionais disponíveis, sejam elas ligadas à evolução dos personagens ou a pedidos disponibilizados no bar local. Fazendo essas missões, é possível conseguir alguns itens úteis e também Fairies que podem ser equipadas como auxiliares dos personagens, afetando os seus atributos e habilidades passivas e ativas disponíveis.

Durante as batalhas, os personagens ganham experiência e Fairy Points que podem ser usados para desbloquear mais habilidades das Fairies. Um detalhe importante é que, caso seja derrotado, o jogador pode tentar novamente e até desistir dos combates temporariamente e manter os pontos obtidos, fazendo com que seja possível insistir até conseguir avançar por um determinado combate. Também há várias opções de Free Battle espalhadas pelo mapa.

A evolução das Fairies permite desbloquear não apenas melhorias para quando elas estão equipadas no slot de Subfairy como também alguns poderes especiais que podem ser equipados separadamente nos slots de Custom Skills. Por exemplo, embora eu tenha desbloqueado o Counter: Fireball com a Fairy equipada no Fang, coloquei esse poder no Galdo, assim ele consegue usar essa magia como contra-ataque. Outras formas de melhorar os aliados incluem armaduras, acessórios e fragmentos mágicos que oferecem benefícios às unidades próximas (Soul Gift).

De forma geral, o jogo é realmente rico nesse aspecto de customização, permitindo ajustar consideravelmente as unidades para ter mais opções durante o combate. A mecânica de Subfairy em especial é um auxílio considerável para aumentar o repertório individual com magias de cura e elementais, por exemplo, assim como para conseguir um boost nos atributos.

Há ainda uma mecânica de síntese para criar alguns itens e a Location Shaping que permite usar as Subfairies para coletar itens na tentativa de encontrar tesouros. Para tentar vasculhar as áreas, o jogador precisa ter energia, obtendo dois pontos para cada batalha concluída. Cada fada possui atributos específicos que fazem com que seja mais fácil encontrar tesouros ou ter a chance maior de ativar uma Chain, que permite fazer explorações consecutivas sem gastar mais energia. É um minigame agradável e útil de forma geral, mas nada que particularmente chame a atenção.

Detalhes de polimento gráfico

Um ponto que infelizmente precisa ser tocado quando falamos de Fairy Fencer F: Refrain Chord é o polimento gráfico. Embora as cenas 2D sejam muito agradáveis visualmente, o combate usa modelos 3D cuja qualidade é questionável. Há uma forte sensação de borrão e uma iluminação estranha para os personagens boa parte do tempo, assim como um design de áreas geralmente sem vida e pouco interessante.

Mesmo não sendo tão agradável visualmente nesses momentos, o jogo ainda apresenta alguns travamentos ocasionais no Switch. Isso é especialmente notável durante o carregamento das unidades inimigas no início da batalha, mas também pode ocorrer até mesmo no menu na hora de ajustar os personagens jogáveis.

Gostaria de destacar por fim que o log do jogo é limitado por evento (ou seja, não dá para rever uma fala mais quando a cena muda), mas é possível rever toda a história no menu Library, sub-tópico Scenario. A galeria também inclui uma visão geral de personagens e inimigos, assim como uma opção para escutar as músicas.

Um tático interessante da Compile Heart

Fairy Fencer F: Refrain Chord é uma releitura interessante de Fairy Fencer F, oferecendo um gameplay tático com bastante variedade de opções para o jogador customizar sua equipe e lidar com os obstáculos. Infelizmente, o seu maior diferencial, que são as musas de combate, também acaba se mostrando um grande limitador para o seu design de áreas, fortalecendo a sensação de repetição. Junte-se a isso o baixo polimento gráfico e a desconexão entre trama e o gameplay e o que temos é um jogo que tinha potencial para ser bem melhor, mas vale a pena para quem curte o gênero.

Prós

  • Boa variedade de customização de habilidades com os sistemas de Subfairy e equipamentos;
  • Abundância de quests opcionais com recompensas úteis;
  • Curiosa implementação de musas de batalha cuja ressonância adiciona uma camada de risco e recompensa à estratégia;
  • Ao perder, o jogador pode manter a experiência e Fairy Points ganhos para a sua próxima tentativa;
  • Trama engraçada e ocasionalmente instigante com personagens carismáticos.

Contras:

  • Design de áreas é muito repetitivo;
  • O gameplay muitas vezes ignora detalhes da trama para oferecer “fases melhor balanceadas” e manter a gimmick das musas;
  • Baixo polimento gráfico dos modelos 3D de áreas e personagens, borrões e pequenos travamentos ocasionais.

Nota Final:

7,5

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