Desenvolvedora: Creatures Inc.
Publicadora: Nintendo
Data de lançamento: 07 de Outubro, 2023
Preço: 249,00
Formato: Digital/Físico
Review feita no Nintendo Switch com cópia adquirida pelo redator.
Revisão: Davi Sousa
Como grande apreciador do gênero de investigação policial, seja em qual mídia for, senti-me compelido a conhecer a série intrigante que mistura mistério com o universo Pokémon. Apesar de não ter jogado o Detective Pikachu original de Nintendo 3DS, lançado em 2016, fui um dos vários conquistados pela premissa tão bem trabalhada no longa que surgiu a partir do spin-off: após o sumiço de um grande detetive, seu Pikachu aparece, com amnésia, e capaz de se comunicar com o filho de seu parceiro, levando-lhes a descobrir diversos casos estranhos que os levarão às respostas para o estranho desaparecimento.
Detective Pikachu Returns aparece em um momento interessante da franquia Pokémon. Entre um jogo e um filme de grande sucesso, a obra busca uma conclusão à narrativa apresentada anteriormente. Ao mesmo tempo, após duas gerações controversas da franquia no console (Pokémon Sword/Shield e Pokémon Scarlet/Violet), o público se mostra extremamente crítico quanto a questões de performance e apresentação de novos títulos, resultando em uma receptividade morna ao spin-off, em um misto de indiferença com indignação.
Não buscarei, no presente texto, apontar qualquer contradição ou crítica contra a receptividade da comunidade. Até porque, como buscarei demonstrar a seguir, acredito que o título não se destaque de forma brilhante, sendo um divertimento breve e não uma imperdível obra de arte. Ao mesmo tempo, apesar de mencionar alguns pontos de apresentação, não espere encontrar aqui um apelo a melhores gráficos ou um aval para discussões online. Discutir se a apresentação serve ou atrapalha a narrativa, ao meu ver, basta. Sem outras considerações iniciais, daremos procedimento à nossa investigação.
Evidências
Um Pokémon que fala com outros, um humano que fala com seus iguais. Não há melhor forma de entender a lógica por trás da obra se não a partir desses dois princípios. Em tramas policiais, coletar evidências e testemunhos é a forma mais eficiente de se criar uma narrativa, estabelecendo linhas lógicas e claras a partir de fragmentos de memórias, todas sujeitas a vieses. Em Detective Pikachu, somos convidados a adentrar a realidade de Ryme City, uma cidade habitada por humanos e Pokémon, entendendo a ordem social a partir de ambas as perspectivas para resolver os mais diversos mistérios.

Detective Pikachu Returns se passa dois anos após os eventos do jogo original, com direito a uma recapitulada geral dos acontecimentos passados. A aventura se passa ao longo de uma semana especial que visa comemorar o elo entre humanos e Pokémon, quando diversos acontecimentos suspeitos levam a dupla de detetives cada vez mais perto de encontrar o pai de Tim e parceiro de Pikachu, Harry.
Em cada capítulo precisamos resolver um mistério, e todos seguem uma lógica básica: colete evidências e testemunhos, formule hipóteses, colete mais evidências e testemunhos para, enfim, expor sua tese para dar fim à investigação. O mais puro suco da fórmula Agatha Christie.
Assim, o ciclo de gameplay gira ao redor de exploração de cenários, como em um clássico adventure. Espalhadas no mapa, temos algumas missões paralelas que enriquecem o mundo, mas que são inteiramente opcionais. Em nível de gameplay, tudo é fundamentalmente funcional, sem qualquer punição para palpites errados e sem qualquer abertura para fins de jogo. Apesar de algumas reviews colocarem esse ponto como negativo, não vejo por quê.
Sim, em jogos como Ace Attorney temos punições para afirmações incorretas, mas que resultam em um loop tedioso de reiniciar todo o capítulo, pulando todos os diálogos repetidos, ou em um hábito de salvar a qualquer momento antes de oferecer uma resposta, quebrando por completo a imersão. Se nos fazer responder a perguntas é um teste para verificar se o jogador está entendendo a narrativa até então, um resumo dos acontecimentos quando erramos uma resposta é mais que o suficiente de penalização.
Em suma, fazer uma análise de Detective Pikachu Returns está completamente vinculado a uma crítica da narrativa, que realizarei a seguir. Como pontos adicionais técnicos, preciso adicionar que existem momentos em que Pikachu pede ajuda a outros Pokémon para realizarem diferentes funções, como sentir o cheiro de algum objeto ou mover rochedos. Essas partes são poucas e curtas, e apesar de uma gameplay mais “travada”, elas nunca geram desgaste.
Por último, não há nada de destaque no restante da apresentação: os modelos humanos são, de forma franca, feios; as animações no geral não têm qualquer inspiração; e o voice acting existe apenas para cumprir tabela. Ainda assim, os modelos de Pokémon agradam, assim como as dublagens que os acompanham, aproximando o jogo do anime. As músicas, por incrível que pareça em um jogo Pokémon, são genéricas e aborrecidas, mas nada disso atrapalha o fluxo da narrativa. Claro, um nível técnico mais polido faria o jogo ser bem mais impressionante, mas o enredo simples pedia exatamente o que nos foi dado.

Estabelecendo Hipóteses
Dois pontos muito importantes antes de adentrarmos a narrativa em si: primeiro, não devemos reduzir nunca uma obra por ser voltada a um público infantil. Crianças não são idiotas, e histórias voltadas a elas precisam passar por critérios críticos e objetivos. É óbvio que serão distintas de obras mais adultas, principalmente pela linguagem, mas dizer que uma narrativa é banal por se voltar a crianças é, no melhor dos casos, desonestidade intelectual.
Segundo: Pokémon, enquanto franquia, sempre soube balancear o tom de suas histórias com doses de bom humor, momentos sérios e genuínos mistérios. Não falo apenas da franquia principal: sempre terei em Pokémon Rangers: Shadows of Almia uma base de comparação com outros spin-offs da série, em uma aventura que mistura investigação com ação e o fascínio encantador do mundo Pokémon.
Em Detective Pikachu Returns, encontramos sim uma narrativa voltada ao público infantil, mas isso não a torna inútil ou desinteressante. Ao mesmo tempo, o texto não acerta a mão na dosagem de humor e mistério, mas faz um trabalho bom o suficiente para darmos um pouco de atenção à obra.
Sem entrar em spoilers, o texto sempre faz questão de frisar bem os elementos importantes da história para o jogador nunca se perder, sendo extremamente zeloso como de costume em suspenses infantis. Seja em Pedro Bandeira ou em João Carlos Marinho, as obras fazem movimentos semelhantes, criando imagens mentais e as associando a momentos-chave para o leitor estabelecer uma linha temporal. O jogo não é diferente nesse sentido, e ele ser óbvio não reduz seu valor.
Em síntese: os casos se estendem por um tempo maior que o esperado porque acompanham um público infantil, mas não porque o tratam como idiota. Ao invés de soltá-lo sem qualquer acompanhamento, ou ao invés de desenhar todas as respostas, o jogo serve como Pikachu, dando dicas para o jogador resolver os mistérios.

Vamos, por fim, à temática. Novamente, sem entrar em spoilers, a narrativa no geral me agradou de forma surpreendente! Novamente, não há nada de especialmente destacável, mas ver temas mais complexos (como o ciclo de abuso policial que justifica aumentos de verba pública em projetos prejudiciais à população) inseridos nesse texto me fez engajar com o projeto de forma mais direta. O jogo apresenta de forma astuta o encarceramento em massa e a criação de políticas de vigilância para apontar um problema real, que com certeza passará ao público.
Conclusão
Francamente, Detective Pikachu Returns é um bom jogo. Não diria ser medíocre, muito menos ruim; é a obra que representa a síntese de um “é, bacana”. Não acredito que uma melhora no aspecto técnico me faria mudar de opinião: o mesmo texto aplicado em um jogo com orçamento AAA teria mais respaldo do público, mas um texto é um texto. Não tendo localização em português, é difícil recomendar a crianças no Brasil, mas acredito que é uma porta de entrada interessante com o apoio de responsáveis interessados em auxiliar na barreira de linguagem. Claro, mais barato é recomendar um bom livro policial infantil, mas não duvidaria que crianças se sentissem interessadas no gênero após conhecer o título.
Acredito que tenha faltado um charme no texto, que é muito comum na série, e essa é uma falha muito mais importante de ser destacada do que os quesitos técnicos. Ainda assim, acredito que os casos são muito bem amarrados entre si, culminando em um interessante caso final e que faz a curta jornada (que dura cerca de 15 horas) valer a pena.
Prós
- Casos fechados e boas resoluções de trama;
- Os Pokémon são bem integrados à narrativa.
Contras:
- Trilha sonora fraquíssima;
- Voice acting pouco inspirado.
Nota Final:
7
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