Review | Tales from Toyotoki: Arrival of the Witch

Desenvolvedora: Fragaria, KEMCO
Publicadora: Aksys Games
Gênero: Visual Novel, Slice-of-Life
Data de lançamento: 22 de agosto, 2024
Preço: R$ 169,84
Formato: Físico/Digital

Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Aksys Games.

Revisão: Marcos Vinícius

Quando se fala da KEMCO atualmente, é fácil pensar em RPGs mobile, tendo em vista que a empresa lança vários desses jogos ao ano e portam os mesmos para o Switch e demais plataformas. Porém, a empresa também publica visual novels no Japão, como o instigante mistério Raging Loop ou a experiência pós-apocalíptia de realidade virtual Archetype Arcadia.

Desta vez, a Aksys Games firmou uma parceria para a tradução da obra Ihanashi no Majo desenvolvida pela Fragaria e publicada no Japão pela KEMCO em múltiplos consoles. No Ocidente, o jogo teve o título alterado para Tales from Toyotoki: Arrival of the Witch, que descreve um pouco mais da proposta. Misturando momentos de slice-of-life com intimismo dramático, a obra consegue apresentar uma trama envolvente e emocionalmente cativante.

A ilha, a bruxa e os dramas pessoais

Tudo começa quando nosso protagonista, o jovem Hikaru Nishime, é forçado a se mudar para uma ilha para morar com seu avô. Abandonado pela tia que o criou após a morte dos seus pais, o garoto logo se vê diante de uma situação complexa, já que o avô não tinha sido informado de nada e estava viajando.

Agora ele está sozinho em uma ilha de Okinawa, sem responsáveis legais nem dinheiro e tratado com desprezo por uma população que odeia forasteiros. Porém, ele logo acaba conhecendo Lilun, uma garota em uma situação similar à dele. Com pele escura e roupas bem estranhas em uma sociedade moderna, ela demonstra ter tido um passado difícil e não confia na gentileza das pessoas ao seu redor.

Mesmo assim, os dois acabam se aproximando e passam a viver juntos, aproveitando a companhia um do outro e aos poucos nutrindo sentimentos mais complexos um pelo outro. Como o título sugere, Lilun é uma bruxa e as suas habilidades mágicas vêm à tona em alguns pontos. A dupla também se relacionará com outros personagens, criando laços de amizade fortes com esses indivíduos.

A trama é dividida em três rotas, mas a estrutura é linear, fazendo com que o jogador tenha que concluir cada uma delas antes de avançar para a próxima. Além disso, essas rotas são todas canônicas e cronológicas, então não existe aqui cenários alternativos, apenas focos temporários na resolução dos conflitos em torno de uma personagem.

Doses de humor e dor

Uma boa parte da história de Tales from Toyotoki é um slice-of-life recheado de humor. A trama inclui uma garota que gosta de agir como se fosse o centro das atenções, um delinquente que gosta de recitar frases de efeito de um mahou shoujo sombrio, uma riquinha tsundere e uma moça um tanto atrapalhada. Todos eles são bem carismáticos e é interessante ver as suas histórias pessoais e como há mais por trás desses estereótipos simples.

Algumas das piadas envolvem metalinguagem, sendo especialmente a primeira rota um momento no qual isso é bem explorado. Porém, conforme a trama ganha mais profundidade e densidade por conta de contextos com peso dramático, esses elementos acabam sendo deixados de lado totalmente. Infelizmente, isso vale até mesmo em pontos nos quais seria interessante ter uma representação mecânica do esforço do protagonista.

Outro ponto sobre a trama é que há alguns momentos nos quais a conveniência de roteiro é demasiada, dificultando a suspensão de descrença. Não chega a ser o suficiente para arruinar a narrativa, mas leitores mais exigentes definitivamente acharão que os problemas poderiam ser resolvidos de formas mais orgânicas.

Por outro lado, a carga emocional faz com que a trama seja bem envolvente. As situações dos personagens são do tipo que facilmente ressoam com os leitores, com tópicos bem universais como família, o peso das expectativas dos outros, a perspectiva de futuro, traição de confiança, entre outros. É especialmente interessante notar como vários “traços de personalidade” dos indivíduos tem muita relação com a vivência que tiveram.

Magia além da superfície

A trama também explora vários aspectos folclóricos e mágicos. Eles aparecem apenas em pontos esporádicos, mas cada rota traz mais detalhes, dando pistas de que há elementos que ainda não vieram à tona. As pistas vão sendo jogadas até que a última história traz a questão à tona e amarra o mistério como um todo.

Felizmente, caso o jogador queira entender mais a fundo as verdades por trás dos eventos, há um menu chamado “Truth” que é adicionado aos extras. Nele, documentos adicionais explicam um pouco da trama. Já se o jogador quiser saber um pouco mais sobre os personagens, o término da história também leva à abertura do extra “Append” com histórias curtas que tinham sido distribuídas pela Fragaria em um livreto na Comiket 101.

A adaptação é simples, adicionando fundos básicos e nada de som (nem música nem vozes) e seguindo o estilo NVL que cobre a tela como um todo em vez de usar caixas de diálogo. Outro extra interessante para conhecer mais sobre a obra é o “Design Works”, que mostra o processo de design do jogo, explicando várias escolhas criativas.

(Un)Limited doujin works

Um ponto que precisa ser comentado sobre Tales from Toyotoki é que o jogo foi desenvolvido originalmente como doujin, ou seja, um produto feito por um grupo amador com poucos recursos. Por conta disso, há algumas limitações que devem ser levadas em consideração por quem quiser se aventurar.

As ilustrações são relativamente simples e muitas vezes acabam não refletindo tão bem o contexto da trama, mas o design dos personagens e as suas expressões são bastante charmosas. Da mesma forma, não há nem ilustrações nem vozes para nenhum personagem secundário. A trilha sonora também inclui músicas royalty-free que podem ser obtidas na internet.

Todos esses fatores serviram para baratear a produção, o que é compreensível dada a origem como doujin, mas as escolhas de onde gastar foram boas. As personagens principais tem ótimas dublagens em japonês e as suas expressões faciais e gestos são bem divertidos.

Em termos da versão traduzida, é importante mencionar que a tradução infelizmente não é muito boa. Embora a maior parte da trama seja de leitura fácil, há vários erros perceptíveis e momentos em que a tradução claramente não corresponde ao que deveria estar sendo descrito.

Uma gema mágica em estado bruto

Tales from Toyotoki: Arrival of the Witch é uma visual novel com uma trama bastante envolvente emocionalmente. Há vários espaços para melhoria e a tradução para o inglês infelizmente é uma das piores da Aksys Games, mas há uma humanidade nos personagens que ainda ressoa e vale a pena conhecer.

Prós

  • Trama emocionalmente envolvente;
  • Consegue apresentar tanto humor quanto drama de forma convincente;
  • Extras liberados após concluir o jogo ajudam a conhecer mais a fundo o mistério e o processo criativo;
  • Personagens principais possuem ótimas dublagens em japonês.

Contras:

  • Tradução com erros grosseiros ocasionalmente;
  • Algumas conveniências de roteiro são um pouco forçadas;
  • A produção audiovisual é bem simples comparado a outras opções disponíveis no Switch.

Nota Final:

7,5

O post Review | Tales from Toyotoki: Arrival of the Witch apareceu primeiro em NintendoBoy.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *