Revisão: Davi Sousa
Para gente que curte videogame, existem jogos que marcam demais. Geralmente, damos um significado para determinado jogo dependendo do momento que estamos vivendo, seja na escola, com amigos, no trabalho, com a família e por aí vai. Algumas pessoas conseguem mensurar essa experiência, fazendo uma espécie de ranking. Eu, particularmente, não consigo hierarquizá-los. Imaginem um círculo de pessoas com as mãos dadas, passando energia positiva, tendo você no centro. É mais ou menos assim que me sinto com certos jogos.
A era dos 8 e 16-bits

No início dos anos 90, tive um primeiro contato com videogames através de uma loja de arcade — os famigerados fliperamas — que tinha no meu bairro. Não era um local que eu ia sempre, porque meus pais receavam pela galera que frequentava o estabelecimento. Mas foi lá que joguei o meu primeiro jogo: Street Fighter II. Pouco tempo depois, joguei uma versão alternativa (pirata) do jogo, para o Nintendinho, na casa de um amigo. Eu cheguei a contar essa história em outro artigo que saiu no site e vocês podem conferir no destaque logo abaixo. Dessa forma, por ser a memória mais antiga que tenho, Street Fighter II tem um “sabor” especial para mim.

Por volta de 1994/1995, meus pais compraram um Master System 3 e, cerca de um ou dois anos depois, um Mega drive 3 para meu irmão e eu. Tanto o console da Sega 8bit quanto o 16bit vinham com um jogo do mascote Sonic. No Master, o port do primeiro jogo vinha na memória. Era ligar e jogar. No Mega, o bundle incluía o cartucho do Sonic 2. Esses dois foram os títulos do ouriço azul que mais joguei na minha infância. Perdi as contas de quantas vezes zerei esses jogos. Como os cartuchos eram caros, apesar da distribuição da Tectoy no Brasil, o que nos restava era se debruçar sobre os poucos títulos que tínhamos ou alugar alguns nos finais de semana.
Outra série que marcou minha vida com os videogames foi Mortal Kombat. No Mega Drive, eu tive Mortal Kombat II e Ultimate Mortal Kombat 3. Esse último, em especial, vendido na época como a versão definitiva do título lançado em 1995, eu curti muito com meu irmão e colegas. Adorava jogar com Kabal, Cyrax e Sub-Zero. Decorava os combos e aprendia os golpes especiais, Fatalities, Brutalities e afins na marra ou olhando em revistas. Num momento onde internet ou YouTube não eram uma realidade, a coisa mais comum era eu ficar tentando combinações, após a mensagem de “Finish him/her”, para ver se conseguia fazer alguma das sangrentas (e hilárias) finalizações.
A quinta geração de consoles

Em 1998/1999, eu tive um Sega Saturn, e dois jogos me marcaram demais nesse console: Need for Speed e Quake. A transição do pixel art para o mundo tridimensional impressionou demais o jovem Wendel, no auge dos seus quatorze anos. Na minha cabeça, Need for Speed apresentava um visual fotorrealista impressionante, como se eu estivesse jogando um filme interativo. Adorava os filminhos que apresentavam os poucos carros do jogo ou os que rolavam quando éramos presos pela polícia.
Como ninguém é perfeito, eu adorava jogos de tiro em primeira pessoa. Duke Nukem 3D eu joguei demais. Inclusive tive o port que a Tectoy fez do jogo para o Mega Drive, que contava com localização para o nosso idioma e tudo. Mas nada se compara a Quake. Na época, minha mãe comprou um jogo para mim e um para o meu irmão de presente de Natal. Meus pais nunca haviam feito isso antes. Era sempre um jogo só. Meu irmão escolheu Burning Rangers e eu, Quake. Passava horas explorando os mapas, matando os monstros e descobrindo os segredos do jogo. Revisitei aquele mapa labiríntico muitas e muitas vezes. Recentemente, pude voltar a jogá-lo, já que uma versão HD do original foi lançada para os atuais consoles.

No PlayStation, comecei a jogar JRPG (olha eu falhando de novo). Nesse sentido, os títulos da SquareSoft foram os meus xodós — em especial Final Fantasy VIII, que foi o primeiro JRPG que joguei no console da Sony. A barreira do idioma (o jogo estava todo em inglês) não chegou a ser um grande problema. Eu tinha um dicionário que ficava do meu lado para me ajudar a entender minimamente o que estava acontecendo. Jogava sempre com meu irmão e um ajudava o outro.
Resident Evil 3 foi outro jogo que me marcou demais. Foi o primeiro título da popular franquia da Capcom que experimentei. E adorei cada segundo naquele mundo apocalíptico. A versão que peguei era a japonesa (Biohazard 3: Last Escape), mas me diverti mesmo assim. Eu fazia speedruns, tentando zerar o jogo no menor tempo possível, e gravava a gameplay (não sei pra quê) numa fita VHS. Ainda não experimentei o remake lançado em 2020 e, pelo que a comunidade fala sobre ele, acho melhor continuar a ficar sem jogar.
Outro jogo que marcou essa geração, pra mim, foi o incrível Tony Hawk’s Pro Skater 2. Tinha até um brasileiro (Bob Burnquist) que podíamos selecionar. Preciso nem dizer que eu só jogava com ele. As melodias contavam com inúmeros clássicos do rock e punk rock internacional. Na época, já estava no Ensino Médio e estudava pela manhã. Eu saía da escola com dois amigos (Thiago e Daniel) e ia pra casa pra jogar a tarde toda com eles e meu irmão. Minha mãe sempre fazia algum bolo ou outra sobremesa qualquer pra embalar nossa diversão. Engraçado que peguei aquele remake lançado em 2021 e, apesar de ter ficado vinte anos sem encostar no jogo, consegui me virar bem nos controles logo de cara.
Simplesmente Zelda!

Em 2002, bem tardiamente, voltei a ter um console da Nintendo (tive um famiclone, em meados dos anos 90). Por um indicação de um amigo, consegui comprar um Nintendo 64. Na época, a gente tinha acabado de terminar o Ensino Médio e estávamos nos aventurando no ofício de web designer. Foi dos “bicos” como criador de páginas de internet que consegui tirar um dinheiro curto, que ajudou a bancar o novo velho console. Numa visita à locadora, num final de semana, consegui alugar, finalmente, The Legend of Zelda: Ocarina of Time. E aquele mundo, a história, a liberdade, o visual me impressionaram demais.
A exploração a cavalo (todo jogo, sempre que possível, eu nomeio o cavalo de Epona) e aquela transição do Link criança para o Link adulto, ao retirar a Master Sword do pedestal, no Templo do Tempo, são emocionantes e lindos de se ver até hoje. Foram horas e mais horas explorando Hyrule. Nos meus diversos rolos na feira de domingo, em algum momento no início dos anos 2000, consegui um cartucho para chamá-lo de meu. E ainda o tenho, mais de vinte anos depois!
A volta dos que não foram

A partir de 2005, eu tive que me distanciar um pouco dos jogos. A faculdade e o trabalho tomaram muito do meu tempo, não sobrando espaço na minha vida para os meus antigos companheiros. Mesmo assim, eu via de perto meu irmão jogando Need for Speed: Most Wanted e Splinter Cell: Double Agent, no Xbox. Nos finais de semana, de vez em quando, me arriscava neles, mas nunca terminei nenhum dos dois, apesar de serem jogos divertidos e visualmente incríveis para a época.
O console da Microsoft, devido à ausência de suporte no Brasil, a gente comprou no camelódromo da Uruguaiana, no Centro do Rio de Janeiro. Como eu trabalhava por aquelas bandas, acompanhei meu irmão num final de semana até uma das lojas para comprar o aparelho. Porém, ele durou pouco em casa. Meu irmão estava descontente com a dificuldade para achar jogos. Então, vendeu o console para pegar um PlayStation 2. Ele até arrumou uma cópia do Splinter Cell: Pandora Tomorrow, já que sabia que eu havia gostado da franquia. Mas também joguei muito pouco.
Meu retorno aos videogames só aconteceu alguns anos depois, entre 2008 e 2009. Na época, minha noiva (agora esposa) e eu compramos um Nintendo Wii. E a partir dali, meus amigos, nunca mais deixei de jogar. Foram tantos os jogos que pude experimentar e conhecer. Os que mais me marcaram foram Wii Sports e Wii Sports Resort, que joguei muito com minha noiva, cunhada e até mesmo o meu sogro; Metroid Prime, que jogava sempre que chegava à casa depois da faculdade; e Super Mario Galaxy 2. Eu tenho vívidas lembranças desse último. Em 2010, no dia do meu casamento, estava muito nervoso e ansioso. Com o apartamento já mobiliado e o console devidamente instalado na TV (uma incrível LCD de 32”), eu fui até lá e joguei um pouco antes da hora do almoço para relaxar.
O lado verde da força

Em 2011, eu consegui comprar um Xbox 360 que vinha com o Kinect, com o qual não dava para jogar quase nenhum jogo porque meu apartamento era minúsculo. Isso não me impediu de me aventurar em Kinect Sports e Michael Jackson: The Experience. Naquele ano, um antigo professor meu entrou de licença médica e me indicou para a antiga instituição em que me graduei para substituí-lo provisoriamente. Com o primeiro salário que recebi, comprei o recém-lançado Batman: Arkham City, vulgo melhor jogo de Batman de todos os tempos. Lembro de uma tarde em que meu irmão veio me visitar e ficamos jogando o game. Estávamos na parte em que o morcegão enfrenta Ra’s al Ghul.
Foi no Xbox 360 que voltei a jogar as franquias de luta que me acompanharam no início da minha vida nos videogames. Nesse sentido, experimentar Mortal Kombat 9 e Super Street Fighter 4 foi algo nostálgico e gratificante.
O ano de 2013 foi muito especial para mim. Na verdade, foi o ano mais feliz da minha vida, pois foi o ano em que minha filha nasceu. Com ela bem pequena, dormindo em meu colo, joguei títulos como o maravilhoso GTA V. Essa foi a minha primeira experiência com a franquia. Antes, eu lembro de ter visto uma partida ou outra em que meu irmão brincava no PlayStation 2 com algum jogo da série. Aquele mundo aberto, a história dos três protagonistas e todas as possibilidades que o título dava, me prenderam por um bom tempo.

No ano seguinte, eu vendi o Xbox 360 e comprei um Xbox One junto com Forza Motorsport 5. Mais pra frente, comprei também um volante bem simples e uma base para jogar títulos como esse e Project Cars. Minha filha, já um pouco maior, pedia colo para ficar brincando comigo. Também em 2015, foi lançado o aclamado The Witcher 3. Confesso que dropei o título e só fui voltar a jogá-lo em 2017. Não tem nada a ver, mas juro que ver The Legend of Zelda: Breath of the Wild — que estava louco para jogar, mas não tinha o Nintendo Switch — foi decisivo para eu dar outra chance ao jogo. E aí eu fui até o final, se tornando uma experiência incrível e marcante.
Outro jogo marcante nessa geração, para mim, foi Red Dead Redemption 2. Eu demorei muito a fazer o final desse jogo, mas a história de Arthur Morgan, com seu carisma, me cativou como há muito tempo não acontecia. O destino de Morgan já havia sido traçado logo nos primeiros capítulos. Ainda assim, na reta final da história, eu me emocionei demais. Os dilemas morais que o jogo apresenta, a narrativa situada no final da marcha estadunidense para o oeste e seu ridículo discurso civilizador, embasado nas teses do Destino Manifesto, são incríveis. O jogo se afasta da ideia da sátira como crítica, vista em GTA, para apresentar um discurso mais pragmático acerca das transformações que estavam acontecendo no país.
O incrível híbrido da Nintendo

No final de 2017, eu consegui comprar um Nintendo Switch, console que me acompanha até os dias de hoje. Comprei o videogame no Mercado Livre (patrocina a gente, ML) junto com The Legend of Zelda: Breath of the Wild. No mesmo dia comprei também, na eShop, Super Mario Odyssey e, algumas semanas depois, Mario Kart 8 Deluxe. Eu ficava revezando entre eles e achei tão incrível a experiência. Na ocasião, Liz, minha filha, iria fazer quatro anos. E agora, com dez para onze anos, ela joga Super Mario Odyssey até hoje. As quase quinhentas horas que aparecem na minha conta são muito mais dela do que minha.
Dentre tantos jogos incríveis do Switch, um tem um significado especial. Trata-se de Animal Crossing: New Horizons. Na época do isolamento, provocado pela pandemia do COVID-19, eu criei mais dois perfis no console. Então, minha filha, minha esposa (que não liga nem um pouco para videogame) e eu ficávamos revezando todo santo dia nesse jogo. Eu era o engenheiro, o arquiteto e o estilista que colocava em prática as ideias das duas. Comprar e vender os nabos para ter dinheiro para aumentar nossas casas e melhorar a ilha era um verdadeiro evento.
Foi em 2020 que comecei a escrever análises e artigos para sites de jogos. O texto que enviei para a redação de um dos sites que escrevo, para ser aprovado como redator, foi justamente falando de Animal Crossing. No ano seguinte, comecei a escrever para o NintendoBoy. O primeiro texto foi de um joguinho indie de plataforma 2D, bonitinho, chamado Hoa. Foi nesse ano também que a Nintendo me deixou feliz da vida ao lançar Metroid Dread, a continuação da saga da maior heroína dos videogames de todos os tempos.
Recentemente, pude jogar no console da Nintendo dois títulos de 2017 que acabei não dando muito atenção na época. Trata-se de Persona 5 e Nier: Automata. A narrativa desses dois jogos é algo impressionante. Tenho inclusive dois textos falando de Persona 5 publicados aqui no NintendoBoy, dentro de uma perspectiva mais filosófica. Pretendo escrever também algo sobre Nier. Provavelmente, o meu próximo texto (vem aí!). Tendo corrigido a tempo o erro de não ter jogado essas duas joias, fica aqui o meu apelo para que o leitor dê uma chance a esses dois jogaços.
A nova geração de consoles

No final de 2020, bem antes dessa espiral de loucura que pairou sobre a divisão Xbox, da Microsoft, peguei o Xbox Series S. E nenhum jogo nessa geração me deixou mais entretido e impressionado que Elden Ring. Eu ficava contando as horas para sair do trabalho e voltar para casa para me embrenhar por aquele mundo. Desde Breath of the Wild eu não me sentia assim. Cada uma das muitas horas investidas naquele jogo valeram a pena. É um jogo que, se tivesse a opção de esquecer tudo, eu o faria só para experimentá-lo novamente.
Depois de muito tempo, no final de 2022, em plena Copa do Mundo, eu voltei a ter um console da Sony. Com o PlayStation 5, estou podendo experimentar títulos que não tive a chance de jogar por ter pulado as outras gerações do console. Nesse sentido, God of War (2018), os dois The Last of Us e Death Stranding foram experiências super marcantes, até o momento. O remake de Final Fantasy VII e Street Fighter 6 foram outros jogos aos quais dediquei algumas boas horas e já estão compondo a minha lista pessoal. No PlayStation 5, minha filha ama jogar Project Diva (pede para comprar músicas) e Roblox (pede para comprar robux).
Lembrar e se emocionar
Se me pedissem para fazer uma lista enumerando essas experiências aqui relatadas, eu não conseguiria. Todas são especiais, logo não tem como mensurá-las. Como disse lá em cima, cada jogo marcou (e continuará a marcar) as diferentes fases da minha vida. Acredito que minha filha esteja passando pela mesma experiência enquanto cresce, assim como cada um de vocês, que se prontificaram a perder alguns poucos minutos lendo essas linhas.
Tem muita coisa que deixei de citar. Afinal de contas, são mais de trinta anos de história. Lembro de amigos que não estão mais tão próximos. Do meu pai, que não está mais comigo. Em linhas gerais, esses jogos me trazem vívidas lembranças de algum momento da minha vida. Como se os videogames fossem uma espécie de lugar de memória, ao qual posso recorrer e me emocionar. Em comum, posso afirmar com total convicção que todas essas lembranças me levam para um canto feliz da minha história, que sempre busco alcançar em dias nublados.
O post Minha vida e os jogos: Retrospectiva — Por Wendel Barbosa apareceu primeiro em NintendoBoy.
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