Desenvolvedora: Aggro Crab Games
Publicadora: Aggro Crab Games
Gênero: Ação, Aventura Soulslike
Data de lançamento: 25 de abril, 2024
Preço: R$ 87,99
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Aggro Crab Games.
Revisão: Davi Sousa
Soulslike não deveriam ser aqueles jogos com atmosfera obscura e chefes extremamente punitivos? Como pode um destes sobre um caranguejo com um garfo se autodenominar pertencente ao gênero com uma estética tão cartunesca?
Após muitas discussões e, claro, memes na internet sobre Another Crab’s Treasure, poderíamos dizer que ele é digno de se denominar um soulslike, gênero amado por gamers hardcore que se gabam internet afora do quanto são superiores à massa por zerarem jogos difíceis? Vamos ver.
Uma homenagem autêntica à série Souls e seu legado
Em meio a tantos indies como Mortal Shell, que tentam homenagear a série Souls ao reproduzir sua atmosfera obscura e dificuldade punitiva de forma até a parecer um clone do original, Another Crab’s Treasure almeja uma homenagem um pouco mais autêntica, apenas percorrendo um caminho mais original que seus concorrentes: se inspirando, porém possuindo uma identidade própria, algo único, o oposto do que Mortal Shell executa.
Não se engane: a aventura do caranguejo-eremita Kril possui em sua essência o que um bom jogo do deste tipo tem e mais um pouco: alta dificuldade, chefes desafiadores, mundo que conta sua história por detalhes, e por mais irônico que pareça, uma atmosfera obscura também. Another Crab’s Treasure não precisa ter tons de preto e cinza em sua identidade visual como sua inspiração para passar sua mensagem, a qual é entregue de outras formas, buscando sempre deixar claro que, apesar de reverenciar a icônica franquia da FromSoftware, continua sendo Another Crab’s Treasure, jogo da Aggro Crab, nada mais, nada menos.

Apesar do gênero escolhido para o jogo em sua concepção, é muito interessante ver que, apesar da ambientação no fundo do mar ser séria e cheia de críticas sociais, a Aggro Crab acertou em cheio no contraponto ao não se levar tão a sério com suas referências, fazendo sátiras constantes com coisas recorrentes em soulslikes, onde, não importa por onde o jogador ande, haja criaturas marinhas querendo te destruir sem uma justificativa prévia. Kril até se pergunta constantemente o porquê disso, uma piada que faz muito sentido, dentre outras que servem como questionamento sobre como as coisas funcionam naquele mundo. Inteligente.

O fato de conseguirmos levá-lo a sério quando necessário, além de tirar boas risadas com suas brincadeiras bem pensadas, fazem do jogo de nosso animal marinho uma jornada muito interessante, embora difícil.
Além de Souls, um platformer 3D também?
Lembrando o icônico jogo do Bob Esponja, SpongeBob: Battle for Bikini Bottom, Another Crab’s Treasure possui em sua gameplay a essência de um platformer 3D, o que de fato é uma ideia muito boa e bem executada em sua maioria. A Aggro Crab soube adaptar a mistura de dois gêneros tão diferentes em seu game design.

Um ponto muito positivo sobre estes momentos de plataforma 3D é que eles criam um bom balanceamento em seu ritmo, repetindo o clássico ciclo de colocar o jogador em um alto momento de estresse para então aliviá-lo (apesar desta palavra não caber totalmente a um soulslike).
Após intensas batalhas contra os chefes da história, vem um trecho com a proposta de prosseguir em plataformas, com mecânicas como ligar um gancho para pular longas distâncias, assim como em Sekiro: Shadows Die Twice, ou até flutuar no ar para alcançar plataformas e escaladas de maneira calculada, lembrando muito Yoshi’s Island, apesar de ser em 3D. As áreas sempre possuem inimigos, porém em muito menor proporção em relação ao que foi citado anteriormente, funcionando muito bem.
Um pequena ressalva de minha parte é que este elemento de design muitas vezes não torna muito agradável lutar com dois inimigos em plataformas tão pequenas, além das muitas vezes em que estranhei o contato de Kril com as plataformas e escaladas. Considero tais pequenos pormenores que não estragam a experiência, apenas sendo pequenos contratempos que podem ser contornados com um pouco de paciência, algo exigido em jogadores deste gênero por padrão.
Além de trechos lineares, há muitas áreas abertas também desde o começo, com chefes opcionais e recompensas sólidas, apesar do custo para obtê-las. Exigindo muita paciência, temos inimigos que realmente levam tempo para o jogador se adaptar, dando uma sensação de recompensa após superar os desafios; porém, passa longe de ser tão difícil quanto sua referência homenageada, apesar de ainda muito desafiador.
Combate Souls com adições bem-vindas
Para sobreviver em um mar tão perigoso, não tem muito segredo: assim como em Dark Souls, rolar, rolar e rolar? Pode-se dizer que sim mas, longe de se resumir a isso.
Em questão do combate, Another Crab’s Treasure lembra muito seu parente distante, desde a mira, movimentação, design dos inimigos visual e mecanicamente, entre outros. O parry for adaptado de forma muito coesa ao contexto, mundo e história do jogo, fazendo sentido com o que o game propõe. Me refiro às conchas (ponto da história a ser mencionado posteriormente na review), as quais, em consequência de Krill ter perdido sua favorita, possuem, além de durabilidades diferentes umas das outras, efeitos úteis em batalha, fazendo o jogador pensar bem em como usá-las.
Algumas são muito resistentes, tornando-se úteis para se defender dos ataques dos poderosos inimigos, mas possuindo a desvantagem de ser mais pesadas; logo, sua locomoção é mais lenta comparado com outras, fazendo nosso herói se movimentar com mais cuidado. O oposto também existe: conchas leves para rapidez, porém pouca durabilidade, obrigando o jogador a ser cauteloso quanto ao dano que toma.
Sendo assim, nossas armaduras de lixo escolhidas podem tanto ser para um usuário que confia em suas habilidades para defender os golpes, ou para quem preferir uma gameplay mais movimentada e próxima do que Dark Souls oferece. Preferências são algo pessoal.

As conchas possuem efeitos secundários, decorrentes das Cargas Umami, mecânica que nos dá poderes de certa forma “mágicos”, que poucos seres marinhos são capazes de usar. Algumas possuem efeito de choque para paralisar os inimigos; outras contam com ataques bem ofensivos, e existem até mesmo algumas com uma defesa e ataque perfeitos, porém uma durabilidade de um golpe só. Diversidade existe, não em proporções gigantescas, porém este fator está bem-colocado.
Para Cargas Umami, há poderes desbloqueados ao derrotar chefes e explorar, uma recompensa sólida que incentiva o jogador a superar até mesmo os bosses opcionais. Temos poderes como armadilhas, tiros aquáticos e ataques que aumentam a barra de atordoamento do oponente, uma mecânica extremamente essencial.
Ao golpear os poderosos monstros marinhos, aumenta-se a barra e, conforme mais tempo sem atacar, seu progresso diminui, fazendo com que o jogador tenha que se preocupar tanto em sobreviver aos injustos ataques que sofre, quanto em atordoar seus predadores. Após preenchida, um forte golpe de garfo derruba temporariamente seu oponente, apenas não por tempo o suficiente para tirar uma quantidade extrema de HP, exigindo bastante paciência por parte do jogador.
Acho seguro dizer que, por ser mais dinâmico que Dark Souls e seus parentes próximos, Another Crab’s Treasure é muito menos punitivo. Mesmo alguém que jogou poucos soulslike, como eu, conseguiu prosseguir no jogo com uma paciência razoável, ao passo que Dark Souls me exigiu muito mais quando joguei.
História e lore interessantes
Lembra quando eu disse que Another Crab’s Treasure sabe balancear seriedade e sátiras, além de possuir uma lore interessante? Vamos elaborar! Kril é um caranguejo que vivia uma vida pacata em seu laguinho, longe do até então não apresentado mundo capitalista mar afora, até ter sua concha roubada por um tubarão alegando que nosso amigo do mar não havia pago seus impostos, deixando uma verdadeira interrogação na cabeça de nosso “herói”.
Após esta introdução descontraída, ao longo da jornada vamos descobrindo um mundo diverso e rico, onde o lixo que os humanos jogam são itens utilizados como moeda de troca em uma economia dos locais, havendo lugares pobres e ricos, um capitalismo marinho. É muito interessante ver como desde o começo os cenários contam uma história de forma dedutível sobre o mundo, e isso é tudo que me limito a falar, pois será muito mais interessante que você descubra as reviravoltas por si só.

A jornada é repleta de personagens interessantes, que participam como companheiros passivos de sua perigosa jornada. Apesar de estarem longe de possuir o mesmo carisma de personagens icônicos, eles passam mensagens interessantes e fazem contrapontos às motivações do protagonista, criando muitos momentos de clímax ao decorrer da história, com reviravoltas engajantes.
A série Souls sempre foi muito boa em contar histórias de maneira que motive o jogador a explorar, mas este jogo executa isso muito melhor do que o esperado para tal, surpreendendo de fato.
Problemas de performance e mapa confuso
Com muito pesar, digo que, apesar de tamanhos acertos, Another Crab’s Treasure possui muitos problemas de otimização em nosso querido console híbrido, principalmente no modo portátil. Logo ao começar a aventura com o Switch fora da dock, em uma pequena cutscene inicial, o jogo já mostrou pequenas travadas consideráveis, além do primeiro chefe também.
Após esses engasgos, o game estabilizou sua performance, apenas criando bugs muito recorrentes que de fato atrapalham o progresso do jogador, como em um certo chefe que possuía um agarrão. Por três vezes, quando estava perto de derrotá-lo, eu cometia um erro e era agarrado, e em vez de apenas tomar o dano e ver se eu possuiria HP o suficiente para sobreviver ao ataque, o inimigo começava a girar infinitamente, me obrigando a perder o progresso e reiniciar o jogo constantemente, tornando a experiência frustrante.
O game não possui gráficos de um jogo AAA de consoles next gen para justificar tais problemas de otimização, então acredito que esses problemas sejam resolvidos no futuro.
Conclusão
Com uma alta bagagem de acertos, Another Crab’s Treasure entrega uma inédita experiência soulslike, que oferece com maestria uma gameplay de platformer 3D, além de uma história interessante, intercalando muito bem entre momentos sérios e engraçados. Ele peca apenas em aspectos técnicos de otimização para o Nintendo Switch, merecendo uma atenção maior neste aspecto por parte dos desenvolvedores.
Prós:
- Homenagem autêntica à série Souls;
- Mistura bem-executada entre soulslike e platformer 3D;
- História e lore interessantes;
- Bom ritmo em suas partes na maioria das vezes;
- Combate dinâmico e amigável com iniciantes do gênero.
Contras:
- Problemas de performance e bugs recorrentes;
- Mapa confuso.
Nota:
8,5
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