Revisão: Davi Sousa
Já notou que, para muitos jogadores discutindo na internet, um jogo estilizado é tratado como um sinal de demérito? Como se o fato de sua direção artística não seguir um padrão com gráficos extremamente realistas o tornasse pior de certa forma, segundo as mesmas.
Minha intenção com este texto não é diminuir os estúdios ocidentais, pois os mesmos fazem games incríveis. Meu intuito é apenas o de fazer uma reflexão sobre essa obsessão, tanto de estúdios quanto de consumidores, a ponto de tratarem gráficos cartoon da forma que citei acima.
Há sentido em continuar esta briga por gráficos?
Uma das coisas que sempre empolgaram os gamers a cada troca de geração de consoles é a evolução nos gráficos: pixel art mais bonita, transição de 2D para 3D, avanço nos polígonos para personagens mais realistas, etc…
Como dito acima, por muito tempo isso fez sentido, pois a cada geração era possível enxergar um avanço considerável, pelo menos até a geração atual.
PlayStation e Xbox são as marcas contemporâneas que encabeçam a disputa pela atenção dos consumidores que ligam para esse fator, carregando uma legião de fãs que brigam entre si nas redes sociais para ver qual dos seus pedaços de plástico é o mais poderoso, qual textura de seus jogos favoritos é mais realista, e assim por diante.
A única questão esquecida é que podemos notar que não houve muitos jogos exclusivos que se poderia chamar de novidade na geração atual, sendo que, dos existentes, boa parte são remasters e remakes e, se são continuações, saíram também na geração anterior, devido ao fato de que o início da era foi atrasado pela questão da pandemia, pois lançar somente na geração atual iria vender menos.

Mesmo que os novos consoles sejam ótimas máquinas com um bom SSD, é possível comparar vídeos no YouTube de jogos realistas lado a lado e notar que não há uma evolução tão considerável a ponto de você olhar para aquele visual e pensar que não rodaria nos consoles anteriores.
A Sony desenvolveu uma obsessão por remasterizações impressionante, a partir da qual os dois jogos da franquia The Last of Us foram relançados; o segundo, em específico, está muito mais polido que muitos games de nova geração. O termo “envelheceu mal” não consegue se aplicar neste caso.

Meu ponto com tudo isso é: é fácil notar que não há uma diferença gráfica impressionante e, ainda assim, vejo que o consumidor médio desta “master-race” por gráficos vê a estilização como um demérito. Quando assisto às apresentações de games das marcas concorrentes da Big N, percebo no chat como enxergam jogos alternativos que não são exatamente realistas como um exclusivo da Sony e Xbox: seus consumidores torcem o nariz e desmerecem na hora.
Eu compreendo perfeitamente que a Nintendo, como empresa, possui atitudes extremamente duvidosas, mas, fugindo um pouco desse ponto específico, percebo que muitos se referem aos jogos da empresa mãe do encanador com um tom de desprezo pelo fato de serem estilizados, e nem ao menos abrem a mente para experimentar.
Isso acontece quando olham para jogos Indie também. O ramo da indústria que mantém a pixel art viva, um sopro de ideias boas em meio ao fast food de games que são os jogos AAA, é tido com ar de desmerecimento.

Após todos esses pontos levantados, existe a necessidade desta obsessão por realismo atualmente, quando os visuais chegaram a um ponto em que não se diferem consideravelmente da geração passada? Por que essa obsessão por realismo continua, se os jogos atuai mal rodam na resolução prometida pelos consoles?
O Ocidente e o realismo
Apesar do fato de que há empresas orientais focadas em visuais aprimorados como Capcom e Square-Enix, ainda assim há uma certa estilização mesmo no tom realista em sua linha principal de jogos.
Porém, aqui no Ocidente, bom, as grandes empresas possuem certa obsessão por essa questão, apelando para o famoso videogame de mundo aberto cheio de marcações no mapa, com sidequests que te guiam pela mão e com adições gráficas, mas que o gamer médio irá reclamar de coisas bobas, como algo na textura da água que não está realista o suficiente, ou um detalhe em algum objeto do mapa que muitas vezes nem é relevante para a gameplay em si.
Essa descrição acima resume basicamente qualquer jogo atual da Ubisoft, que até mudou a originalidade de Assassin’s Creed para que suas obras tivessem essa mesma fórmula, mas em épocas diferentes (Watch Dogs, cof cof).
A empresa francesa não é a única, pois outras também seguem a mesma fórmula, e não é necessário ir muito longe para achar exemplos como a Warner Bros Games.

Percebo que, em tempos modernos, jogos mais cartoon são vistos meio que como uma relíquia do passado por esse público, como algo que é um demérito só por ser o que é.
As pessoas se esquecem que não são os gráficos que realmente são relevantes em um game, mas sim o quanto sua gameplay é prazerosa; aliás, ouso dizer que gráficos não são tão importantes quanto dizem ser, mas sim uma das coisas mais irrelevantes em um game.
Conclusão
Há espaço na indústria para todos os tipos de jogos; eu mesmo gosto de produtos realistas, apesar do que foi dito no acima, mas sinto que essa obsessão por realismo é uma das coisas que mata a alma dos videogames como um todo. Não há vergonha nenhuma em um jogo ser estilizado e fora desse eixo — pelo contrário: há muito mais alma em um jogo artístico do que em qualquer um desses apresentados da forma que são atualmente.
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