Desenvolvedora: Water Phoenix
Publicadora: PQube
Data de lançamento: 25 de Outubro, 2023
Preço: R$ 145,56
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela PQube.
Revisão: Paulo Cézar
O uso de videogames para discurso de histórias modernas não é uma novidade, nem mesmo no próprio cenário dos jogos. Eu não conseguiria dizer com total confiança que o uso dessa metalinguagem acrescenta um elemento significativo que iria modificar todo o status quo do universo na maioria das histórias que utilizam ela, mas mesmo assim, não é só comum, mas é uma moda.
A ideia de discutir o mundo real em paralelo a um videogame, sobre experiências, vivências e as memórias criadas nesses jogos são temas centrais, mas surgem exceções para toda regra. Archetype Arcadia não precisava do videogame para contar sua história, mas inverte a regra quando traz as memórias de mundo real para o fictício, ao invés do contrário.
Relembrar é viver
A história toda tem como seu ponto central memórias, de uma forma bastante literal, todo o conflito do protagonista, Rust, se baseia na aceitação de suas piores memórias, e enfrentar seus traumas passados, para que assim ele consiga ter êxito em seus objetivos. Não apenas as memórias do protagonista, mas como a memória de muitos personagens secundários será ponto vital da história como geral. De uma forma temática é ótimo, é fácil simpatizar com alguém que tem memórias doces e memórias fortes que preferia evitar, surgindo de maneira natural uma conexão entre o protagonista e o leitor, mas sem descartar que Rust é um personagem próprio.
Para não repetir muito do que foi dito na prévia, serei breve nessa sinopse: a sociedade humana não existe como antes, uma doença que causa a agressão dos afetados, ou com si próprios ou com aqueles próximos a eles, infectou quase toda a humanidade, a única forma de tratamento conhecido entre as pessoas é um aparelho utilizado nos olhos que leva os pacientes até Archetype Arcadia. Existe uma falta de noção dos personagens sobre a funcionalidade de um jogo ou um videogame, e faz parte do charme do mundo construído por essa história. Nesse mundo virtual todos lutam usando suas próprias memórias, perder aqui é risco de perder suas memórias e perder a si mesmo pode causar consequências horríveis.

O maior desafio de Rust nessa história acaba sendo ele mesmo, por causa de eventos de seu passado ele se tornou apático, sem conseguir se conectar com outras pessoas ou até mesmo suas próprias memórias, tornando ele impossibilitado de se tornar mais forte. A representação de Rust como apático é interessante em contraste de como isso é representado na cultura pop, a frieza é vista, com frequência, como um traço forte de alguém que não se deixa abalar e não pode facilmente ser derrubado, mas Archetype Arcadia inverte esse padrão.
O protagonista quer se conectar com os outros, ele quer se tornar mais forte, quer sentir a felicidade que sua irmã sente ao estar perto dela. É uma forma mais real de ver a apatia, mas ele é muito rápido ao lidar com esses problemas para crescer no universo, assim como alguns de seus outros arcos. Quando se encontra nesses momentos, colocando sua história no papel, os conceitos da história carregam um roteiro fraco.
Isso fica ainda mais evidente nos personagens secundários, alguns têm potencial para se tornar bem marcantes, mas seus arcos parecem terminar muito cedo, tornando suas histórias, que deveriam ser mais melancólicas e emocionantes, vazias, e o jogador fica apenas com um gosto de quero mais, como se tivesse uma cenoura em sua frente, provocando ele a continuar lendo, mal sabendo que a recompensa não é das mais saborosas assim.
Diamante não lapidado
Preciso de sua cautela para compreender o que eu quero dizer quando digo isto; Archetype Arcadia parece inacabado. Ele não tem conteúdo faltando, nem necessariamente precisa de uma sequência, mas há uma sensação de que sua história precisava de mais algumas revisões, e se já não bastava os problemas do que, suponho eu, ser o roteiro original, a versão localizada está repleta de bugs. Topei com problemas de texto, erros gramaticais, circunstâncias do texto simplesmente não aparecendo, palavras comidas, etc. Não sou tão exigente quanto a isso quando se trata de outros gêneros de jogos, mas com Visual Novels, onde o texto escrito é a experiência, eu considero imperdoável.

Agora mencionamos o aspecto jogo, que tenta seguir o sistema de decisões ditarem o progredir da história, mas, de forma bem irônica, Archetype Arcadia iria se beneficiar de menos jogo, já que as decisões deixam o jogador com um sentimento de futilidade, muitas delas se resumindo a Rust tomar uma ação importante ou ficar parado. Não há falha nenhuma em Novels cinéticas, sem escolha nenhuma durante a narrativa, não é nada que atrapalhe, mas é realmente um incômodo precisar tomar escolhas que aparentam ser tão fúteis.
Antes de encerrar esse tópico eu quero levantar o questionamento se essa história precisava realmente se passar dentro de um MMO. Assim como muitas histórias recentes de fantasia usam de elementos de isekai sem precisar, o mesmo vale para o uso de teleportar o protagonista para dentro de um jogo. Explicar todo o funcionamento de um novo universo, assim como todo seu sistema mágico consome muitas linhas, não é só um caso de entender que uma espadada pode ser letal ou que você morre ao ser machucado o suficiente, é lembrar que além de uma história, naquele mundo ela aparece como um jogo.
Archetype Arcadia conseguiria, sim, ser uma história com os mesmos temas e discussões similares se não se passasse em um videogame, mas na tentativa de se abranger, ele se tornou apenas mais genérico. Os flertes que a história dá com a ficção científica não são o suficiente se ela perde a coragem de colocar o anel em seus dedos.
Conclusão
Archetype Arcadia tem ideias boas executadas de maneira não lapidada, nunca deixando a história ruim de verdade, mas com certeza fazendo ela cair do que tinha potencial de ser algo grande. A história atira para muitos gêneros mas não precisava de tantos elementos para contar a história que pretendia, fazendo com que mesmo que tenha um ritmo rápido, ela ainda parece se arrastar quando ele precisa ensinar uma regra ao leitor sobre um jogo que ele nunca irá jogar na vida.

Eu fico muito contente de simplesmente poder ler Archetype Arcadia, outrora esse jogo sequer seria lançado em inglês, mas se for para receber o título então irei cobrar uma gramática correta e uma verdadeira revisão, bugs e descaso com tão poucas variantes durante a jogatina tem um gosto mais amargo na boca.
Em suma, Archetype Arcadia não é nada revolucionário, mas é uma história divertida, que, por decisões questionáveis, se tornou mais genérica do que precisava, mas seus temas interessantes e personagens charmosos, apesar de rasos, com um bom protagonista, tornam a experiência agradável após suas longas 40 horas de leitura.
Prós:
- Tema principal muito bom;
- A jornada, vista de maneira base, é boa;
- Personagens charmosos;
- Bom protagonista.
Contras:
- Muitos elementos desnecessários;
- As escolhas não precisam existir;
- Muitos bugs.
Nota final:
7
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