
Já fazem 11 anos que o último jogo de Mario 2D foi lançado, mas falando de um jogo como “Super Mario Bros. Wonder”, esse tempo é ainda maior.
Mario e sua turma estão na estrada por um longo período, e nesse tempo, suas aventuras se transformaram em 3D e em termos de games bilaterais, eles se tornaram jogos demasiadamente simples pra ser o mais padrão possível. O que Wonder faz com a série Super Mario é como um antigo campeão que se tornou sensei anos atrás, mas que agora resolveu vestir seu uniforme, entrar na arena e lembrar o mundo o porquê dele ser quem é.
Este é apenas o começo da review, mas tal como o jogo e indo direto ao ponto… sim, Wonder é o melhor Super Mario 2D desde os anos 90, com larga vantagem pra não deixar isto sequer ser uma competição, mostrando o que a Nintendo gosta de se exibir com os jogos do seu eterno mascote: excelência e principalmente criatividade.

INTRODUÇÃO – QUEM É O MARIO DE VERDADE?
Pra explicar o motivo da afirmação de que Wonder é o melhor Mario desde os clássicos e como não o víamos desde os anos 90, preciso falar deles…
Ninguém tem dúvidas de que o Mario é o principal rosto dos videogames, principalmente quando nós consideramos toda a historia da indústria e não somente um período onde “x ou y” estão em alta. Mas qual o motivo?
Muito acham que é pelo fácil aproveitamento da série, é muito fácil gostar de Mario, então, todo mundo gosta e ele ganhou a popularidade que tem. Não que não seja isso também, mas é muito mais…
Segundo Hideo Kojima, diretor de Metal Gear e Death Stranding e considerado uma das maiores mentes dos games, o primeiro Super Mario Bros. no Nintendinho é o equivalente ao Big Bang dos games, e de fato… os games até então eram, tal como seu nome, jogos, brincadeiras, adaptações de filmes e esportes. E foi então que com a brilhante mente de Shigeru Miyamoto a Nintendo revolucionou trazendo o que foi indiscutivelmente o melhor jogo até ali.

Não era só sobre marcar pontos, ou realizar uma tarefa, Super Mario Bros. mostrou ao mundo um universo novo e cativante, com herói, residentes daquele mundo, vilão e seus subordinados. Um mundo coeso, onde canos te levavam de um lugar para outro, e claro, um primor técnico para sua época em todo aspecto possível, principalmente nos desenhos daquelas fases icônicas até hoje.
Porém, além disso, tudo foi temperado com um ingrediente japonês: uma criatividade cômica, carismática e de certa forma psicodélica.
É impossível para nós que crescemos com o Mario pensarmos como foi para as pessoas da época jogar aquele jogo pela primeira vez, mas até hoje é um jogo fantástico, no sentido original, cheio de fantasia e surpresas do início ao fim.
Com a popularidade absurda e sendo então a base de muitos games e criadores de games lendários, a indústria passou a encarar Super Mario como algo padrão, um jogo que é o básico, o “verbo to be” do ensino de inglês ou aquela banda que todo professor usa pra ensinar as primeiras músicas para seus alunos iniciantes.
Mas nunca foi sobre ser comum e sim, sobre sair do comum, “viajar na maionese” e surpreender a todos a cada fase causando sempre um sorriso ao jogar algo extremamente bem feito.
Se você já jogou Super Mario Bros. 1, 2, 3, ou Super Mario World, você sabe exatamente do que eu estou falando, mas eu também estou falando de Super Mario Bros. Wonder.

WONDER É MAIS MARIO DO QUE NUNCA
Entendendo a verdadeira essência do Mario que vai muito além de “ah, é divertido”, é fácil explicar como “Super Mario Bros. Wonder” resgatou essa essência.
Primeiramente, o jogo se passa no Reino Flor. Ora, se o reino dos Cogumelos se tornou tão conhecido que não dá mais para se ter grandes surpresas com ele, troque o reino então!
O fato de estarmos num reino novo é uma grande permissão para se criar inúmeras coisas novas e introduzir naquele universo, e de fato, nunca vimos tanta novidade num Mario 2D. De inimigos, cenários, temas musicais… é tudo muito mistura de novo e conhecido ao mesmo tempo.
Porém, esse novo Reino Flor é somente o recipiente perfeito para a grande novidade de Wonder que a Nintendo terá muito trabalho para superar um dia: as Flores Fenomenais.

As flores fenomenais são itens que iniciam eventos inesperados e nos permitem coletar uma semente fenomenal, que nesse jogo, funcionam como as estrelas verdes nos jogos 3D, precisamos de uma quantidade específica delas para progredir no jogo, e nós as conseguimos terminando uma fase, comprando na loja ou, terminando o evento das flores fenomenais.
O ponto é que esses eventos causados pelas flores são simplesmente um completo cheque em branco para os desenvolvedores se soltarem e inserir no jogo o que eles quiserem, uma carta coringa, uma desculpa perfeita pra Mario ser Mario e surpreender a cada nova fase.
Inimigos ficam gigantes, a gravidade muda, proporções, o preto vira branco, você sai voando num dragão… tudo pode acontecer, é simples assim de definir!
Vocês não tem noção do quão genial é isso até verem por conta própria, e é por isso que eu recomendo MUITO que vocês não vejam gameplays demais, pois desde as primeiras fases a Nintendo vai fazer o que sempre fez usando Super Mario, surpreender e arrancar sorrisos!

Mesmo na ficção, existem regras a se seguir, ou aquele universo, mesmo fictício para de fazer sentido, mas, e se existir um item no jogo que é dito ser sua função alterar a realidade? Bom…daí, qualquer coisa ilógica passa a fazer sentido, e se tudo pode, você simplesmente não sabe quais serão as regras do jogo dali em diante.
Muitas franquias estão usando o conceito de multiverso pra ter essa mesma carta coringa ao longo do seu filme, jogo, série, etc… virou clichê e sempre gera aqueles furos de roteiro pra explicar porque de repente “ah, apareceu um Batman reptiliano de outro universo” , muitas vezes obrigando a direcionar todo o enredo daquele produto pra justificar o evento ou máquina capaz de trazer à tona esse multiverso alterando o espaço tempo e num sei o que, uma bagunça que só… E daí, vem a Nintendo, e fala “olha, você vai pegar um item que tem nesse reino e ele vai alterar tudo que quisermos, beleza?”, “ah…beleza” e pronto… simplicidade e genialidade, assinaturas do Super Mario.
As Flores e Sementes Fenomenais talvez sejam o melhor tipo de item coletável dos games, pois você não os quer somente para colecionismo ou progredir, você quer encontrá-las pois o jogo te dá um anseio ao pensar “o que será que eles aprontaram dessa vez?”
E pode ter certeza que eles terão algo surpreendente pra te mostrar.

É ZUEIRA MAS É SÉRIO!
Embora o universo de Mario seja feito pra dar sentido ao que não faz sentido, a matemática por trás da criação de um jogo, programação, física, level design, animação… está tudo extremamente bem feito.
Os personagens estão muito expressivos em tudo, pulos, corridas, entrada nos canos, até os goombas fazem expressões de chocados! Além de vermos detalhes que fazem toda a diferença, como animações em torno dos protagonistas quando pegamos um power-up.
A física do jogo é simplesmente perfeita. O controle do pulo, movimentação, a resposta rápida… olha, morrer nesse jogo é totalmente por culpa do jogador. É uma física que contempla a habilidade dos jogadores que sentem que com treino, farão o que quiser com o jogo.
O sound design do game é talvez a melhor da série, mesmo incluindo os 3Ds! Já estamos acostumados com mudanças no áudio, por exemplo, quando entramos na água e aí fica abafado, mas aqui, a Nintendo se superou! O power-up do elefante muda a música para um arranjo usando instrumentos graves de metal.
Movimentos como a tradicional bundada do pulo pro chão ativa um som. Diversos sons de pulos são diferentes, dependendo do personagem ou o seu power-up…e isso tudo e muito mais, fora ainda os efeitos das Flores Fenomenais que também influenciam o áudio… Não cometam o pecado de jogar esse game sem volume!

E muito feliz em comentar: a dublagem das plantas falantes, em específico em português, é boa, NÃO IRRITA COM O TEMPO e tem muita piadinha ótima. Acaba que essas plantas também se tornam algo que traz surpresas ao longo do jogo, principalmente porque não é algo que você tá botando alguma confiança de que contribuir muito pro jogo, mas contribui!
Aliás, toda a tradução do jogo está ótima. Você sabe… a Nintendo vacila demais com tradução, e anda a passos de koopa… mas dá pra perceber que essa tradução foi feita como eles dizem que é: um time brasileiro trabalhando junto com os desenvolvedores e fazendo do idioma, parte do desenvolvimento do jogo.
Super Mario Bros. Wonder é cômico e lúdico como sempre é Super Mario, e é também um jogo difícil de se achar defeito técnico. E claro, não poderia faltar o gameplay impecável, marca registrada da Nintendo.

NINTENDO = GAMEPLAY
Jogar Super Mario é sempre muito bom, e tem um motivo, além de criativo, e de muito bem polido e caprichado, simplesmente seu gameplay é incrível.
Pouquíssimas fases no jogo são genéricas, todas elas mostram seu propósito, inclusive, o título delas ilustra isso muito bem. Elas tem temática, objetivo, tudo bem definido, Algumas giram em torna da fase em si, outras em apresentar um inimigo novo, e em outras o foco é a Flor Fenomenal mesmo.
As insígnias dão aos personagens diversos tipos de poderes. E é incrível como o jogo negocia com o jogador através dos tipos de insígnias. O primeiro tipo, padrão, dão habilidades que melhoram o jogador, o pulo fica mais alto, você corre mais, você tem um hookshot ou um paraglider… é simplesmente “aumentando suas capacidades”, maioria delas são obtidas com desafios, fases curtas focadas na insígnia e seu efeito.
O outro tipo, as insígnias azuis, são facilitadores, elas não te deixam mais forte, mas te dão uma mãozinha, como começar com um super cogumelo, se livrar de uma queda na lava, detectar itens secretos… seu personagem não fica mais potente, mas a fase se torna menos desafiadora.
E por fim, as brilhantes, são habilidades insanamente difíceis de controlar mas que dão poderes interessantes, quase que um desaforo do jogo te dizendo “duvido você passar essa fase usando essa insígnia aqui”, uma delas te torna invisível, o que é ótimo pois os inimigos não te notam, mas… e pra se achar no meio da fase?

Essa versatilidade negociável é também vista nos personagens. Humanos (e Toads?) são o padrão de sempre.
Ledrão não leva dano de inimigos, mas não usa power-up e portanto, várias coisas com ele não são possíveis. E os Yoshis são os mais roubados, pois, embora também não possam usar power-ups, eles tem a língua que engole tudo e aquele impulso no ar e também não levam dano, então, tem muitos jeitos de se jogar Wonder baseado no quão fácil versus o quantas possibilidades você quer ter.
Até mesmo a organização do mundo, o overworld é criativo. Eles tem rotas alternativas, fases secretas, temáticas, e uma coisa muito arriscada que eles fazem é incluir mundos onde não há um castelo, não tem chefão, o desafio final é tipo… outra coisa.
Deu pra ver que o desenvolvimento do jogo foi realmente muito livre, sem amarras e focando ao máximo não deixar o jogador achando que entendeu tudo ao jogar a primeira hora.
Mesmo com jogos tão diferentes como Mario Wonder e Zelda Tears of the Kingdom, a base da Nintendo é sempre a mesma: gameplay, e é por isso que ela é e sempre será muito copiada. Se vai ser uma jornada épica ou um plataforma pra se jogar em família, isso é o de menos, o importante é ter uma boa ideia de jogabilidade, e por isso jogar Nintendo é sempre tão bom.
Mas afinal, Wonder é perfeito?

ENTRE ERROS E IDEIAS QUESTIONÁVEIS
É difícil falar de problemas graves ao falar de Mario Wonder, mas no mínimo existem coisas que poderiam ser melhores e também decisões que vão agradar uns mas outros.
A arte do jogo é muito bonita, as fases são bonitas, visualmente ele é bom, porém, talvez nisso a Nintendo não tenha repetido o feito dos clássicos. Wonder é um jogo de fim da vida do seu console, e se compararmos aos outros na mesma situação, temos Super Mario Bros. 3, que chocou o mundo com as pessoas não acreditando que aquele jogo estava rodando num console 8 bits. E nem falo de “super gráficos”, no SNES com Yoshi’s Island, após os gráficos realistas ganharem destaque (inclusive com a ajuda de Donkey Kong Country) a Nintendo foi e criou uma arte totalmente inovadora e que novamente surpreendeu.
Wonder não faz nada disso, ele é bonito, mas seu visual não passa a mensagem de grandeza e inovação que o gameplay passa, talvez por isso muitos quando o viram não botaram lá tanta fé nele.
A música vai pra um lado semelhante, ela é boa, mas não vai ser lembrada como uma das melhores trilhas do Nintendo Switch.
O jogo é talvez o que melhor interpreta a fórmula Super Mario Bros. 2D, mas ele ainda é um Super Mario Bros. Passa fase, ganha item, chefe, muda de mundo, repete, final boss.
Eles até arriscam algumas coisas pra dar um ar de novidade, como um dos mapas ser na verdade um centro que leva a todos os outros mapas. Mas nada impressionante.
Isso é bom pra alguns que querem exatamente isso, mas outros que poderiam esperar algo mais revolucionário e próximo ao que acontece nos jogos 3D nesse sentido, não vão achar aqui.
E aí um das coisas que se limitar a ser ainda um tradicional Super Mario Bros, é que a sua duração não é longa. O jogo pode ser terminado com 5 horas caso você corra. O jogo te dá liberdade pra fazer todas as fases de um mundo ou não, é tipo:
“Precisa de 10 sementes fenomenais pra passar desse mundo, você pode ou passar 10 fases, sem pegar as flores fenomenais, ou, passar 5 fases coletando as flores fenomenais de cada uma, claro, ou uma mistura dos jeitos que é o que mais vai rolar.”

Correr significa não jogar todas as fases ou presenciar todas as flores fenomenais, o que é ruim, mas, correr pros créditos não é ruim, pois conforme você progride, libera mais insígnias e fases fáceis pra conseguir power-ups, então, deixar um conjunto de fases pra fazer depois não é muito má ideia não.
Mas claro, além da conclusão da história, existe muito mais para se fazer pois cada fase possui um mastro pra se alcançar o topo, 3 moedas roxas e 2 ou 3 sementes fenomenais (uma pro evento da flor fenomenal, outra pro fim da fase, e a terceira pra quando tem um caminho alternativo com um mastro diferente). Mesmo concluir todas as fases é um desafio, pois achar todas as fases é um desafio, todos os mundos escondem de certa forma algumas fases, necessitando ou de um caminho alternativo, ou mais sementes que o normal, ou reparar em algo no mapa do mundo, enfim…
Não dá pra cravarmos tempo de gameplay pra 100% pois infelizmente tivemos muito pouco tempo pra jogar antes de preparar esta análise, mas pelo que vimos, o tempo total salta pra pelo menos 20 horas (ao menos sem guia). Se tempo total longo for um fator determinante pra você, aguarda uns dias depois do jogo sair e os primeiros jogadores conseguirem fazer tudo.
E por fim, dificuldade que é sempre polêmica pois se for fácil, é ruim pra quem quer difícil, e se for difícil, é ruim pra quem queria fácil
Wonder é um jogo com pouca variação de dificuldade. As fases tem uma indicação de dificuldade por estrelas, e o máximo que encontramos foram 5 estrelas, extremamente raras.
Não é lá muito preciso esse sistema, tem fase 5 estrelas que é fácil, tem fase 1 estrela que dá trabalho pra achar tudo… mas num geral é por aí mesmo.
O jogo não dá as coisas de bandeja, nenhum dos power-ups ou insígnias fazem tudo por você, como era, por exemplo, o gato em Mario 3D World que escalava o mastro pra você, ou no New Super Mario Bros U que tinha o baby yoshi rosa que te permitia voar sobre toda a fase.
Então, por ser mais uniforme, ele não é tão fácil no começo como um Kirby, por exemplo, e no final, é ainda bem de boa embora mais difícil. O começo é mais difícil que o New Super U, e o final é mais fácil.

CONCLUSÃO
Super Mario Bros. Wonder traz de volta aos jogos 2D a essência de inovação em gameplay e surpresa lúdica nipônica, além de ter o refinado polimento Nintendo. Ele é um forte candidato a melhor Super Mario Bros. devido à sua variedade e montante de novidade.
Por um outro lado, ele não vai impactar a indústria como a série impactou no passado, justamente por ser ainda um Super Mario Brós, um jogo de fases espalhadas em mundos onde no final, o Mario derrota o Bowser, uma fórmula criada nos anos 80.
Porém, é verdade que talvez, Wonder seja o jogo mais fácil de ser apreciado por todos os jogadores do Nintendo Switch. Com quase nada que podemos declarar ser um defeito que incomodará a todos, ótima execução, diversão, gameplay refinado, variedade de dificuldade ao combinar personagens e insígnias, e a criatividade característica da série, é difícil pensar em alguém que vai jogar e não gostar de Super Mario Bros. Wonder.
A nota técnica da equipe Coelho no Japão para Super Mario Brós Wonder é 9/10.
E a tier do jogo é S+: é um jogo de elite do console pela sua qualidade geral e fácil aproveitamento por todo tipo de jogador!
NOTA: 9/10
TIER: S+
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