Review | Rhapsody: Marl Kingdom Chronicles

Desenvolvedora: Nippon Ichi Software
Publicadora: NIS America
Data de lançamento: 29 de Agosto, 2023
Preço: R$ 259,99
Formato: Digital/Físico

Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela NIS America.

Revisão: Davi Sousa

Entusiastas de JRPGs, principalmente aqueles que viveram os tempos de ouro do primeiro PlayStation, devem se lembrar de Rhapsody: A Musical Adventure, certo? Não? Olha, não se faça de idiota, eu estou falando daquela aventura musical super cativante na qual acompanhamos uma garota chamada Cornet em sua jornada para salvar seu amado príncipe, que foi petrificado por um feitiço. O título, inclusive, é considerado um clássico cult do gênero.

Dito isso, você sabia que ele foi sucedido por não apenas uma, mas duas sequências?! Pois é, mesmo eu, que encho a boca para falar que sou fã dos jogos da NIS, não sabia deste fato até algum tempo atrás — obrigado, Ivanir, por me iluminar. Mas sério, me dê um desconto, foram jogos que saíram apenas no Japão e que por lá ficaram por mais de 20 anos.

Ademais, os fãs deste lado do globo finalmente poderão colocar as mãos em Rhapsody II: Ballad of the Little Princess (1999) e Rhapsody III: Memories of Marl Kingdom (2000) por meio da coletânea Rhapsody: Marl Kingdom Chronicles  — que, por alguma razão não inclui o primeiro, mas pasmem, não irei me delongar com reclamações. Vou apenas pressupor que, se você está adquirindo o pacote é porque já jogou Musical Adventure, seja no PS1, no DS ou em Prinny Presents NIS Classics Vol. 3, que é onde você encontra a minha análise dele:

Seja com o carisma doce e encantador de um RPG musical ou como um olhar mais nostálgico e contemplativo para a evolução dos SRPGs, Prinny Presents NIS Classics Vol. 3 traz um prato cheio para os amantes do gênero.

Sem mais demora, irei falar de forma abrangente sobre os jogos que compõem Marl Kingdom Chronicles. Farei isso separadamente, é claro: serão duas análises em um artigo só, como eu tenho feito em todas as coletâneas de Prinny Presents NIS Classics. O revisor que lute, sinto muito.

Ballad of the Little Princess

—Alerta de spoiler, você foi avisado!

Se você está lendo este artigo, suponho que já tenha jogado Rhapsody: A Musical Adventure; afinal, o que irei abordar aqui trata-se de uma sequência, embora não da história em si. Contudo, não entrarei em detalhes do aspecto narrativo por motivos óbvios, mas vou falar do essencial para situá-los um pouco. Portanto, se existe em você o mínimo de desejo em jogar a série a partir de A Musical Adventure, sugiro voltar aqui em outro momento.

Tirado o elefante da sala, Rhapsody II: Ballad of the Little Princess ocorre 12 anos após a conclusão de seu antecessor, em que Cornet e o príncipe Ferdinand se casam e têm uma filha.

Nesta história, acompanhamos Kurusale Cherie “Kururu” Marl Q., filha de Cornet e Ferdinand, uma jovem alegre e honesta, porém ingênua devido à sua criação rígida, que a proíbe de sair do castelo. Alias, Kururu tem um senso de moda bem questionável, mas isso é só uma nota inútil mesmo.

Ademais, como toda criança arteira que se preze, Kururu não gosta de estudar e tampouco leva a sério seus superiores, com os sermões que leva entrando por um ouvido e saindo no outro. Toda essa birra, no entanto, é porque ela quer se livrar das restrições da realeza e ir atrás de seu sonho: encontrar seu tão sonhado príncipe, assim como sua mãe fez.

Na ausência de seus pais, Kururu esquematiza fugas do castelo, onde, junto de Crea, a sua parceira de crime (digo, melhor amiga), protagoniza aventuras pelas terras de Marl. Tais aventuras, inclusive, levarão ao encontro com Cello, um jovem misterioso que salva a moça de um dragão, remontando à cena de Musical Adventure em que Cornet e Ferdinand se conhecem pela primeira vez — embora aqui pareça mais com uma briga de cão e gato do que amor à primeira vista.

A história, no entanto, vai ganhando contornos à medida que os desencontros de Kururu e Cello passam a se tornar uma aproximação mais amigável,  na qual a protagonista gradativamente nutre sentimentos amorosos pelo galã, que consequentemente lhe dá determinação para encarar grandes perigos em função do rapaz — novamente, espelhando muito sua mãe.

Em paralelo, suas desventuras de muitos tropeços acabam servindo como um trampolim para o seu amadurecimento e autodescoberta. Ballad of the Little Princess é muito sobre isso, aliás, dando um núcleo bastante interessante à narrativa, que, embora de forma muito açucarada e sem grandes camadas, trabalha satisfatoriamente bem o elenco central de personagem, ainda melhor que em Musical Adventure, na minha opinião.

Todavia, Ballad of the Little Princess não foge muito da estrutura narrativa estabelecida no primeiro jogo, apresentando uma trama breve e concisa. Apesar da progressão linear dar um ar de um enredo subdesenvolvido, os jogadores podem acionar eventos secundários, que exploram melhor os personagens e seus respectivos backstories.

Outra coisa que não posso deixar de mencionar é como esta sequência mantém as raízes de Musical Adventure, trazendo uma combinação única do tema “A Jornada de Herói” com os musicais in-game bem elaborados daqueles parecidos com os clássicos da Disney, resultando em um RPG agradável e singular. Isso sem contar toda a sua atmosfera alegre junto ao humor pastelão, ainda mais em evidência aqui. Eu realmente amo o tom cômico e satírico da NIS.

Partindo agora para os sistemas de jogo, Ballad of the Little Princess usa Musical Adventure como base para oferecer uma experiência de JRPG única porém ainda ortodoxa. A princesa, assim como sua mãe, é uma marionetista que pode falar com marionetes e recrutá-las ao tocar sua trombeta mágica. Contudo, aqui suas marionetes servem apenas como suporte em combate, contrastando com o primeiro jogo, no qual também podíamos ajudá-las em seus plots de história.

E já que mencionei o combate, a aventura de Kururu muda de forma significativa o sistema de batalha, com um viés estratégico para o tradicional baseado em turnos. Até aqui, nada demais, funcionou melhor do que eu esperava, e arrisco dizer que ficou visualmente mais agradável do que aquele estilo em câmera travado em ângulo fixo. Ninguém pediu, mas deixarei uma comparação:

Sistemas de batalha: Rhapsody: A Musical Adventure/Rhapsody II: Ballad of the Little Princess

Em uma breve explicação: aqui você pode ter até quatro party members em tela, com as marionetes equipáveis para um leque a mais de skills para além dos movimentos padrões, dando uma dinamizada no combate, embora nada tão inovador.

Contudo, existem pouquíssimos subelementos para explorar, dando destaque à barra em forma de partitura, que ganha um contador quando usada uma certa quantidade de skills das marionetes, permitindo gastar esses contadores para performar uma skill suprema em área bastante conveniente. Além disso, enquanto gastamos nosso HP para performar habilidades particulares de cada membro, o uso das habilidades das marionetes requer apenas o gasto de Inotium, que é a moeda do jogo — facílimo de “farmar”, inclusive.

Em suma, Rhapsody II: Ballad of the Little Princess sucede Musical Adventure com maestria em todos os aspectos, oferecendo uma nova e refrescante odisseia pelo Reino de Marl. Julgando-o sob a ótica de um reviewer, eu diria que tanto ele quanto a série em si são produtos únicos devido à premissa de ser um musical com RPG que, convenhamos, é algo atípico de se ver mesmo nos dias atuais. Vamos dar os devidos créditos, não é mesmo?

Agora, em um olhar mais intimista de um fã, Ballad of the Little Princess é uma sequência agradável que, embora não ouse tanto, oferece mudanças o suficiente para se distinguir de seu irmão mais velho, encarnando todo seu carisma de forma magistral!

Sério, foi uma jornada encantadora que me manteve imerso ao longo de mais de vinte horas. Talvez vocês não estejam preparados para esta conversa, mas mesmo sendo um RPG de 1999, esta é facilmente uma das melhores experiências do gênero que você irá encontrar em 2023.

Memories of Marl Kingdom

Chegamos à conclusão para a série Rhapsody, lançada para PlayStation 2. Embora Memories of Marl Kingdom seja familiar ao seguir a fórmula de seus antecessores — sendo um RPG musical muito bem-humorado com um elenco cativante, além de ser simplista em sua composição —, ele usa uma abordagem muito diferente para os JRPGs de sua época.

Eu explico: em sua premissa, ele se apresenta mais como um conjunto de histórias que transitam entre Musical Adventure e Ballad of the Little Princess, trazendo mais nuances às respectivas aventuras.

Apesar de ser um RPG, Memories of Marl Kingdom funciona como uma espécie de fandisk, que, em uma explicação bem rasa, é um complemento à história do jogo original, arrumando as pontas soltas deixadas por ele ou desenvolvendo melhor alguns elementos que não foram tão focados.

Entendendo a natureza do título, admito que tive pensamentos conflitantes sobre como abordá-lo nesta review. Na verdade, eu gostaria de falar de forma bem abrangente sobre cada estória enquanto opino por cima delas; porém, há muito spoiler aqui, então sem condições.

Além disso, farei este sacrifício pelo bem do revisor, que, a este ponto, deve estar dando grandes suspiros enquanto revira os olhos de tédio lendo isso. Portanto, diferentemente de Ballad of the Little Princess, aqui vou apenas falar de forma bem superficial sobre minha experiência com Memories of Marl Kingdom, além de detalhar um pouco seus sistemas de jogo. Combinado?

Dito isso, a campanha neste terceiro título passa por seis capítulos de histórias independentes e amarradinhas, cujos eventos abrangem o passado, presente e futuro da série.

Exemplificando: “A Daughter’s Quest ocorre bem no início de Musical Adventure, em que Cornet e Kururu estão perdidas numa floresta e acabam ajudando uma garota-cogumelo a encontrar sua mãe; “Pumpkin Pants and the Trial Love?” é um epílogo de Ballad of the Little Princess no qual Kururu participa da Beauty Contest a fim de ter a bênção seu pai para se casar; “Romeow and Mewliet”, por outro lado, é um conto sobre o casal de gatos lá do segundo jogo.

A cereja do bolo, no entanto, vai para o quinto capítulo, dividido em oito partes que contam uma extensa história protagonizada pela princesa Charie, mãe de Cornet (a anjo muito bem avantajada da ilustração lá do início, só pra constar). É praticamente uma campanha dentro de um capitulo, onde aprendemos mais sobre a princesa, desde seu passado até o pós-evento em que ela transcende o tempo para evitar seu trágico destino. É praticamente uma versão completa de um arco de história muito importante em Ballad of the Little Princess.

Basicamente, os capítulos 2 e 5 são os que de fato preenchem buracos na narrativa dos jogos, mas não é como se os demais fossem dispensáveis. De forma alguma! O único problema é que, tratando-se de histórias isoladas, espera-se que o jogador tenha a liberdade de selecioná-los por pura conveniência. Só que não: Você terá que jogar um a um para desbloquear os capítulos subsequentes.

Isso não me incomodou, na verdade. São histórias muito divertidas, embora se delonguem mais do que deveriam. No geral, a diversidade de temas acaba quebrando o ciclo de monotonia e deixando a transição entre capítulos mais suave. No fim do dia, é mais um compilado de fanservice para o fã digerir aos poucos do que uma obrigatoriedade.

Ah, sim, os sistemas de Memories of Marl Kingdom, eu não posso esquecer disso de forma alguma! Mas convenhamos que aqui apenas o combate é o necessário de fato, já que não há muito mais o que oferecer para além disso; afinal, é a NIS dos início dos anos 2000, não dá pra cobrar muito de criatividade de game design deles antes de La Pucelle: Tactics.

Pois bem… Como podem ver na imagem abaixo, o combate se mantém em turnos como em Ballad of the Little Princess, nada demais. Contudo, a forma como ele se comporta é muito diferente, surpreendentemente dando mais camadas ao sistema. A mudança mais brusca, no entanto, fica por conta da esquematização da party, onde agora podemos colocar até 12 personagens em tela!

Agora, no combate em si, as coisas não são tão diferentes dos demais jogos: o personagem na linha de frente pode realizar a ação, enquanto os da retaguarda desferem golpes normais, ou você pode gastar o turno de ação do personagem da linha de frente para escolher as ações dos que estão na retaguarda. Simples, não é?

Além disso, toda a base do combate dos jogos anteriores está presente, como as ações especiais que consomem HP e as skills secretas que os marionetistas podem usar. É importante notar que, assim como em Musical Adventure, agora os monstros e marionetes que se juntam à party podem entrar para a linha de frente, diferentemente de Ballad of the Little Princess, em que eles só serviam de suporte.

Se eu gostei de Memories of Marl Kingdom? Claro que sim! Quer dizer, realmente pode parecer inconveniente ter que jogar histórias “menos importantes” antes de chegar ao que realmente é interessante. Mas vai por mim: se você jogou Musical Adventure e Ballad of the Little Princess e gostou, é quase impossível não amar esses extras em forma de capítulos.

Mas sim, eu genuinamente gostei, apesar de já parecer óbvio a essa altura do texto. Infelizmente, jogar Memories of Marl Kingdom requer que você já tenha zerado seus antecessores, e eu já expliquei o porquê disso, não insista. De todo modo, concluo dizendo que em hipótese alguma você deve pular Memories of Marl Kingdom simplesmente por ser um compilado de histórias soltas, pois o conteúdo que ele oferece é muito bom!

Posso começar Rhapsody por Marl Kingdom Chronicles?

Para o tópico não ficar sem ilustração: Arkujo na maior vibe capa de Persona 2: Eternal Punishment.

Antes de rasgar elogios, é necessário falar rapidamente da forma como os jogos em Rhapsody: Marl Kingdom Chronicles foram oferecidos; afinal, no fim das contas, é uma coletânea com alguns goodies.

Ademais, apesar da localização de Ballad of the Little Princess e Memories of Marl Kingdom já valerem o pacote, fica difícil entender algumas decisões por trás dele. Eu me refiro ao fato da coletânea não incluir Musical Adventure, que atualmente só pode ser adquirido na Steam ou em Prinny Presents Vol. 3, para Switch. Além disso, é um pouco irônico o fato de que Marl Kingdom Chronicles está também no PlayStation 5, mas o jogo original sequer recebeu port para ele — o que diabos a NIS America tem na cabeça?

“Então, quem Rhapsody: Marl Kingdom Chronicles realmente almeja?” Obviamente quem já jogou Musical Adventure. E nem venha me dizer que é possível começar por  Ballad of the Little Princess “tranquilamente”, pois se tem uma coisa que odeio é não ser contextualizado sobre elementos do jogo anterior presentes na sequência. Memories of Marl Kingdom então… esse aí é completamente restritivo, impossível começar por ele. Vai por mim.

Quanto às funcionalidades extras que se espera de um revival como esse… bem, aqui o trabalho é mínimo. Eles realmente só se preocuparam com a tradução; ou seja, se em Prinny Presents NIS Classics já não era lá essas coisas, aqui, então, o capricho é pífio.

Além da UI refeita, existem as opções que podem deixar os visuais mais suavizados para quem não gosta de velharia, ou deixá-lo vintage com um filtro CRT. Não há possibilidade de deixar a tela cheia (mesmo que isso estique os pixels), você apenas joga com a proporção 4:3, com as bordas pretas preenchendo a tela — que, aliás, nem dá para personalizar, como é de praxe em todo relançamento retrô que se dê o respeito.

Um verdadeiro tesouro para os fãs da NIS

Dada as ressalvas, Rhapsody: Marl Kingdom Chronicles é, sem dúvidas, o maior ato de amor que a NIS America já teve para com seus fãs, ao mesmo tempo que honra o legado da Nippon Ichi Software neste lado do globo.

Ballad of the Little Princess e Memories of Marl Kingdom são duas aventuras distintas e de qualidade notável, demonstrando o quão apaixonada a equipe de desenvolvimento estava pela série. Eu realmente não sei por que demoraram tanto para trazê-los para cá, mesmo que a versão de Nintendo DS de Musical Adventure tenha trago parte destes jogos como conteúdo extra, ainda era injustificável mantê-los no Japão por tento tempo.

Droga! talvez eu esteja emocionado demais para dar o veredito, mas que se dane: após jogar Rhapsody: A Musical Adventure e suas sequências, eu declaro que Rhapsody é uma das séries mais atraentes que a NIS já produziu. Embora dê para fazer vista grossa diante de sua história “simples” e mecânicas de jogo subdesenvolvidas, ela ainda se sobressai por sua individualidade por ser um RPG musical com um elenco de personagens marcante.

É uma série obrigatória para entusiastas das franquias do estúdio japonês, seja pelo seu contexto histórico, que já expliquei na minha review do primeiro jogo, ou por sua qualidade em vários segmentos. Além disso, os jogos nem envelheceram tão mal assim — o trabalho com pixel art deixou um charme retrô muito único. De todo modo, apesar de restritivo e não tão bem-elaborado, Rhapsody: Marl Kingdom Chronicles ainda é um pacote que vale a pena!

Prós:

  • Duas improváveis joias do passado agora oficialmente no Ocidente;
  • Algumas funções convenientes, incluindo opção de áudio em inglês, embora as músicas estejam apenas em japonês;
  • A narrativa simples e bem-humorada é uma boa pedida a quem só quer aproveitar uma ótima história descomplicada.

Contras:

  • Um pacote de decisões questionáveis, com pouco capricho e completamente restritivo a novos fãs;
  • Diferentemente de Musical Adventure, as músicas cantadas estão apenas em japonês;
  • Voltando às funcionalidades extras, o trabalho é muito básico, não havendo sequer a opção de tela cheia.

Nota final:

8,5

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