Review | The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom

Desenvolvedora: Nintendo
Publicadora: Nintendo
Data de lançamento: 12 de maio, 2023
Preço: 357,99
Formato: Digital/Físico

Review feita com cópia adquirida pelo redator.

Revisão: Davi Sousa

É no mínimo curioso pensar na forma como a franquia The Legend of Zelda esteve presente ao longo da minha vida. Já comentei em outra ocasião a forma como a série é capaz de causar não apenas uma forte reação no jogador, mas também de se entrelaçar de forma muito íntima conosco. Pessoalmente, Twilight Princess foi a primeira experiência que tive com a mídia interativa de jogos digitais que abriu meus horizontes, quando ainda era criança, e, à medida em que cresci, fui me aventurando mais e mais na série, até me tornar um fã com “F” maiúsculo da criação de Miyamoto enriquecida por Aonuma.

The Legend of Zelda sempre foi uma série celebrada, mas nunca senti isso com o passar dos anos. Durante minha adolescência, enquanto vivenciava as mais belas aventuras em meu Wii U, DS e 64, todos ao meu redor vivam o auge da era do Xbox 360 e do PlayStation 3, e era difícil encontrar qualquer um com quem pudesse falar das minhas aventuras em Hyrule. Ao mesmo tempo, eu era hostilizado pela crueldade que apenas jovens aborrecidos são capazes de expressar, isolando-me cada vez mais dentro de meus mundinhos. Aos poucos, mesclei-me mais e mais com os símbolos mitológicos da série, em uma relação muito íntima, e encontrava na coragem de Link a força de sobreviver por mais um dia.

Em meu penúltimo ano de Ensino Médio, quando tudo parecia simplesmente insuportável e vivi alguns dos piores momentos da minha (ainda curta) vida, joguei-me por inteiro no tão esperado Breath of the Wild, tornando-me mais um dos que se emocionou com a grande obra apresentada pela Nintendo. Com a grande explosão do título e do Nintendo Switch, o interesse na série pareceu explodir, no mínimo, no ciclo social ao meu redor, o que aos poucos nutriu uma semente da discórdia em mim. Afinal, eu via as mesmas pessoas que criticavam-me pelos meus gostos – de forma repulsiva e humilhante – entrando na “onda” do sucesso do título, e senti como se violassem um espaço sacro.

É um pouco estranho pensar nisso agora, mas sinto que a única forma de ser minimamente justo tanto com o leitor quanto comigo mesmo é articular esse paralelo. Independentemente de problemas que tive com o derradeiro título do console que me acompanhou por tantos anos, sei que esse sentimento infantil me fez afastar-me de Hyrule. Aos poucos, também, apaixonei-me por outras séries, e minha ligação extremamente íntima com The Legend of Zelda enfraqueceu cada vez mais.

Abro minha análise com essa introdução por um motivo específico: The Legend of Zelda: Tears of The Kingdom é o jogo mais celebrado de 2023, um dos anos mais fortes da mídia, e acho muito difícil ele não ser considerado o “jogo do ano”, ou qualquer termo que agrade às discussões francamente inúteis de redes sociais. Minha experiência, fruto portanto de uma relação extremamente individual, deixou-me desgostoso com a obra. Sim, não fui capaz de apreciar meu tempo com o jogo, apesar de momentos muito positivos e impactantes, e acredito que muito tenha a ver com minha experiência particular com a série.

Francamente, sei que a maior parte não compartilhará dos devaneios de mais uma dentre as milhões de pessoas que compraram o grande lançamento da Nintendo. Aos que ficam nessa análise em certa medida lúgubre, ao lado de demônios do passado, convido a puxarem uma cadeira para ouvir as lamentações de uma mente confusa.

The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom — Onde comprar

Antes do lançamento

Desde o anúncio de uma continuação de Breath of the Wild, passei por diversas fases de expectativa. Em um primeiro momento, especulava o que o jogo poderia ser. Em seguida, rejogava o antecessor de Tears of the Kingdom e, a cada revisita, sentia-me mais distante daquele ânimo. Folheava, então, as enciclopédias da série, lia textos teóricos sobre os clássicos que me moldaram e, quando finalmente animava-me, um desgosto interno me jogava de volta para a indiferença.

Muito aos poucos, passei a separar de forma drástica Breath of the Wild dos títulos passados da série. A experiência de mundo aberto em contraste à linearidade clássica, a falta de dungeons, a ausência de um companheiro de aventura… claro, o jogo é tão bom quanto todos sabem que é, mas ele nunca me fisgou com a mesma magia que circunda a franquia. Não há aquele arrepio ao ouvir a música orquestrada, o espírito do herói mesclado com o do jogador. Ao mesmo tempo, ao cavalgar pelos campos desertos de Hyrule ouvindo notas melancólicas de piano, senti uma fagulha do antigo espírito.

De forma geral, o último título do Nintendo Wii U é, apesar de diferente dos antigos jogos de The Legend of Zelda, capaz de despertar sim momentos de encanto. Mas eu percebia cada vez mais que esse encanto havia se perdido em mim. Eu ainda era capaz de apreciar os pontos positivos, e ainda retornava aos clássicos com extremo gosto, mas o sentimento calcificou-se com o tempo.

Isso até o último trailer da Nintendo, com uma composição incrível, explorando a majestosidade ao redor do potencial da série. Nesse momento, senti que toda a carga construída anos atrás retornara com tudo, fazendo-me inclusive acordar de madrugada para jogar as primeiras horas de Tears of the Kingdom antes de abrir meu ponto no trabalho. E valeu a pena?

A Experiência Geral

Tears of the Kingdom é, sem dúvidas, uma maestria técnica. Os desenvolvedores foram capazes de criar uma obra sem precendentes na indústria, especialmente pelas possibilidades de construção e de relação entre objetos e interação do jogador. É simplesmente surreal ver algo dessa magnitude rodar no Nintendo Switch, mesmo com exemplos como Nier Automata, Pikmin 4 e Luigi’s Mansion 3 no console. Dito isso, o que começou como um grande retorno a sentimentos ocultos logo se tornou em uma experiência maçante, frustrante e vazia.

Falemos brevemente sobre a narrativa. A trama de Tears of the Kingdom mescla diversos tropes da série, como viagem no tempo, a presença de Sages, aparições de templos e o reino de terror de um mestre das sombras, guiado pela maldição de Demise, com o cerne de Breath of the Wild: a trama se passa no passado, com Link tendo de recuperar memórias espalhadas por Hyrule, e se caracteriza por sua fragmentação, dando ao jogador a possibilidade de seguir o caminho que melhor lhe couber. A melhora da tentativa de uma história é significativa, mas sua diluição em um mapa que nos distrai realmente a enfraquece.

Muitas críticas podem ser feitas ao jogo. O mapeamento de botões é pavoroso, fazendo o jogador cometer erros básicos mesmo após centenas de horas no save; o subsolo é repetitivo à exaustão; a narrativa é circular e redundante; e a maior parte das Shrines decepciona… Por outro lado, alguns comentários positivos podem também ser feitos: a jornada de Zelda é emocionante; as mudanças no mapa e nos personagens trazem um respiro bem-vindo ao cenário que já estamos cansados de explorar; o sistema de missões paralelas é engajante; novos inimigos são excelentes adições; e a sequência final é simplesmente de tirar o fôlego.

No fim, percebo que se os pontos negativos pesam mais ou menos que os positivos, isso depende inteiramente do jogador. Quanto a mim, senti apenas um cansaço imenso conforme me arrastava para explorar o mapa. Busquei fazer o máximo, explorando todo o subterrâneo e fazendo todas as Shrines, e ainda assim tive de pausar por diversas vezes minha jogatina para desfrutar de outros jogos que julguei mais interessantes, tudo para não deixar-me vencer pelo imenso desinteresse que senti a partir de 30 e poucas horas em Tears.

Aqui entra minha relação com a série. Sei que muitos podem culpar minhas expectativas, mas não acredito que tenha sido esse o caso. O máximo de minha expectativa era reviver meu interesse pela série, mas a verdade é que talvez ela simplesmente seguiu um caminho distinto do meu, o que é completamente justo.

Coletivo X Individual

Hoje em dia, já não sou mais o jovem hostilizado no colégio pela corja ao meu redor. Hoje aprendi a lidar com as frustrações de pessoas ignorantes que buscam aumentar seus egos ao reduzir o dos outros, e também passei a ver a mídia de jogos de outras formas. Além disso, por trabalhar no mercado de jogos, aprendi a enxergar o objeto-arte de uma forma menos íntima, independentemente do quanto gosto a nível pessoal ou não. Ainda assim, não consigo dessassociar meus sentimentos mais íntimos com The Legend of Zelda.

Pode não parecer, mas escrever sobre o presente título está sendo tão desafiador quanto chegar ao fim da minha jornada em Tears of the Kingdom. É triste pensar que uma série que foi tão importante para mim permanecerá no meu passado por conta dessas questões, mas sei que apenas a vejo dessa forma, hoje, porque ela foi essencial para me trazer até aqui.

Nesse sentido, começo a questionar o quanto o fenômeno coletivo de consumir obras impacta nossa experiência individual. Cada vez mais vejo o quanto o discurso público impacta nas minhas impressões de um jogo, bem diferente de quando, por exemplo, leio um livro alheio a qualquer especulação ou comentário terceiro.

Em suma, meu desinteresse por The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom está completamente associado a como me desvinculei da série. Muito se especulou se o título recuperou ou não a essência das aventuras de Link, mas sinto que precisamos perguntar isso a nós mesmos, e não à obra. A nível objetivo, sei que a maior parte amará, e outros gostarão. Reservo-me à minoria que cansou-se ao longo do caminho, ao mesmo tempo em que rogo por uma nova juventude que descubra aqui os encantos que perdi outrora.

Prós:

  • Melhorias narrativas significativas em comparação ao antecessor;
  • Os toques musicais preenchem melhor a cena;
  • A variação de inimigos enriquece a experiência;
  • A customização em todos os níveis é impressionante.

Contras:

  • Narrativa diluída que se enfraquece com o tempo;
  • O jogo é muito mais extenso do que deveria ser;
  • Ilhas e templos são subutilizados.

Nota final:

7,5

O post Review | The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom apareceu primeiro em NintendoBoy.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *