[REVIEW] PIKMIN 4 MUDA DE FORMA OUSADA E AUMENTA O ESCOPO DA FRANQUIA

Pikmin é talvez o que chamamos de “franquia para nintendistas”. Dificilmente temos fãs da série que não sejam diretamente fãs da sua produtora, a Nintendo, e em especial, do seu criador, Shigeru Miyamoto, que criou pilares dos games, como Mario e Zelda.

Sendo assim, Pikmin sempre foi muito bem feito, e elogiado pela crítica e público, mas se mantinha como um jogo que era como um…“filme cult daquele diretor famoso”, ou “aquela ótima música do ótimo disco de uma ótima banda, mas que não virou clipe e só os fãs conhecem”.

Introduzo a review do novo Pikmin 4 deste jeito por um motivo: avisar que isso mudou! Pikmin 4 altera significantemente a fórmula da franquia, como ela funciona, e mais do que isso, amplia o escopo da série para níveis de franquias que vendem muito mais do que essa costuma vender.  A Nintendo fez uma aposta:

Sim, Pikmin 4 é uma GRANDE e SURPREENDENTE produção, o que chamamos de “Triple A”, na verdade, um dos maiores jogos exclusivos do Nintendo Switch.

Hoje eu quero te contar o que a Nintendo mudou em Pikmin, e como ela ampliou o escopo da franquia, possivelmente para sempre, neste, que eu já cravo como um dos melhores exclusivos do Nintendo Switch!


PIKMIN AVENTURA

Uma das coisas que mais chama a atenção no jogo é como ele é maior e mais ambicioso do que os jogos anteriores. Deu pra ver que a intenção com esse jogo foi testar como Pikmin se sai no degrau acima, um “e se a gente investisse mais nesse franquia?”. Nesse sentido, Pikmin 4 se parece com Fire Emblem Three Houses, que é muito maior do que qualquer Fire Emblem anterior, não só em duração/tempo de gameplay, mas…também nisso!

Para dar esse salto, a Nintendo mexeu e mudou como a série funciona, a fórmula do jogo não é exatamente a mesma, apesar dos trailers e até a demo darem a entender que sim. Foram mudanças ousadas, sendo bem honesto, ou até arriscadas, pois mexem em estruturas estabelecidas na série, então mesmo que você já conheça Pikmin, já seja fã, se prepare, você não sabe como esse jogo funciona

Pikmin sempre foi um jogo de Estratégia em Aventura, sendo mais específico sobre o lado estratégia, ele é um RTS (Real-Time-Strategy).

Esqueça tudo sobre os antigos jogos, Pikmin 4 deu um salto além.

Essa mistura de RTS e aventura nos colocava num mapa explorável onde você se sentia o tempo todo jogando AO MESMO TEMPO um jogo de estratégia e aventura, onde coordenamos pequenas criaturas chamadas de Pikmin, atribuindo atividades à eles mediante o tipo do Pikmin, então você deixava um grupo de Pikmins vermelhos apagando fogo, Pikmins de Pedra quebrando rochas, e qualquer grupo movendo peças pelo mapa. Tudo isso exigia bastante cautela e estratégia pois tínhamos recursos limitados, tanto de tempo quanto sobrevivência o que causava uma enorme pressão nos jogadores.

A primeira coisa que eu preciso esclarecer é que essa mistura 100% do tempo de aventura e estratégia mudou! Sim, polêmicas!

Para expandir, a Nintendo em Pikmin 4… meio que… separou um pouco os 2; não 100%, mas ela claramente criou momentos onde a aventura prevalece, e é aprimorada, e outros momentos de puro jogo de estratégia. Foi assim que ela fez:

O jogo possui fases: e essas fases são abertas, uma comparação é Pokémon Legends >>colocar lado a lado, não são fases grandes quando olhamos território, mas tem exploração não-linear e bastante conteúdo. As fases não são mais áreas de pressão no jogador, aqui a Nintendo quer deixar você livre progredindo e apreciando aquelas belas paisagens, e é por isso que agora as fases passam um ar muito mais de jogo de aventura.

Ainda temos o limite de tempo -antes de anoitecer, você precisa voltar todos os seus Pikmins para a base, se não eles morrem !! Mas… como toda fase tem entre 3 ou 4 locais onde podemos mover a base… você nunca está muito longe dela, até porque, novamente, as fases não são tão grandes assim (de uma ponta a outra, com o mapa todo aberto -incluindo atalhos- e limpo de inimigos, entre 1 e 2 minutos de caminhada) mas calma, quando você chega nessas fases, tem dezenas e mais dezenas de coisas pra fazer, além de você ter que…”desenrolar o nó”, criando atalhos e facilidades para atravessá-lo.

Enquanto o limite de tempo foi amenizado, o limite de recurso foi além: foi extinto! Em Pikmin 3, por exemplo, quando coletamos certos itens, ganhamos suco, e ao fim do dia, bebemos um pouco dele, então todo dia era bom achar mais e mais itens e te deixar abastecido, pois, caso esse suco acabasse, era Game Over, você tinha que voltar uns dias pra tentar de novo e achar mais suco.

Em Pikmin 4, você não tem uma comida pra gerenciar, nem nada do tipo. Então não tem pressa, você pode passar quantos dias quiser na mesma fase, sem coletar nada, e nada vai acontecer com você. Repetir fase em Pikmin é como repetir fase em Mario.

Essa mudança é tão brusca que, sinceramente, já que ela existe (e funciona!) era mais fácil tirar o limite de tempo também, mas como eu falei, mesmo ele foi amenizado com os fast-travels da base.

Acredito que eles só não quiseram extinguir tanta coisa de uma vez só. Mesmo o fator cautela com os Pikmins (pois eles morrem) foi amenizada, pois agora podemos voltar no tempo, então, caso você tenha perdido 30 Pikmins num chefe até enfim pegar a manha de como o derrotar… você pode voltar pra antes da batalha e perder muito menos ou até nenhum!

“Poh, Coelho, eu sou fã da franquia… você está me dizendo que eles…’nutelaram’ o jogo?”

Não, pois como eu falei, o que fizeram foi separar a mistura 50/50 de estratégia e aventura. Nas fases, reina a aventura, é uma coisa mais casual e até contemplativa, e sinceramente, agora qualquer um consegue jogar Pikmin, embora, conforme as fases progridem, mais elementos de puzzle e estratégia aparecem, então, as fases escalonam de dificuldade. E se essa parte foi a parte de aventura, agora vou falar sobre a parte de estratégia.


PIKMIN RTS – ESTRATÉGIA EM TEMPO REAL

Enquanto as fases são belos cenários tranquilos (generalizando), agora a Nintendo introduziu cavernas que encontramos a entrada nas fases (tipo as shrines de Zelda), e na verdade, é nessas cavernas onde rola a verdadeira progressão do jogo.

Existem 2 tipos de cavernas: Cavernas de Batalha Dandori (que são de 2 tipos) e cavernas de níveis, onde temos pequenas fases em sequência (são bem mais dungeons mesmo).

Em ambas, o tempo passa 6x mais devagar, então, é onde o jogo ganha tempo de gameplay, pois elas podem ser grandes e trabalhosas, e mesmo assim, você não precisa fragmentar em dias porque está anoitecendo.

O tempo passando 6x mais devagar, na prática, você não precisa se preocupar com tempo, vai dar e sobrar, com certeza.

As batalhas Dandori são onde a aventura vai pro espaço e o jogo fica 100% RTS. Um folhado, que são estranhos cobertos de planta, te desafiam de 2 jeitos diferentes (a depender da caverna).

No primeiro, “Desafio Dandori” você precisa coletar x pontos em x tempo, e tem um ranking de bronze até platina. Aqui sim, você precisa espalhar as unidades que tem e planejar uma trajetória que te permita ganhar mais recursos e pontos, em menos tempo.

O outro tipo são “Batalhas Dandori”, onde um folhado vai literalmente competir com você pra ver quem consegue mais pontos em x tempo, e vale mencionar que essas batalhas podem ser jogadas como multiplayer competitivo local, você contra seu amigo. Os desafios dandori são boas pra compensar a mudança na fórmula, entregando muita adrenalina em pouco tempo, e as batalhas dandori são uma ótima novidade e elas se desenvolvem a cada nova fase (sério, elas progridem muito, muito bem, caso você tenha jogado a demo e achado simples).

Curiosidade, Dandori é uma palavra japonesa para se organizar da melhor forma possível, que é o que fazemos num RTS.

As Cavernas de níveis, são só cavernas mesmo haha A Nintendo usou essas cavernas pra criar fases criativas, explorando o level design da franquia como nunca! Algumas cavernas limitam os tipos de Pikmin, elas tem temáticas como “fases de gelo”, e… curiosamente, é nelas que rolam as batalhas de chefes, provavelmente pra incluir essas batalhas no tempo passando mais devagar, e assim você não precisa lidar, ao mesmo tempo com chefes e o relógio.

Cada caverna de fases está no plural pois ela tem andares que são como fases, e muitas delas chegam a 4 fases, 5, 6… novamente, aqui é onde o jogo ganha tempo de gameplay, elas são longas!

Não o bastante, a Nintendo introduziu as explorações noturnas, que são separadas das fases -e aí, por dia, ou você explora uma fase, ou faz uma batalha noturna, não dá pra emendar uma na outra ou coisa do tipo, são coisas separadas mesmo.

Essas explorações noturnas usam somente um tipo de Pikmin, os pirilampos, que são como fantasminhas. E nelas, você precisa sobreviver uma noite protegendo um certo objeto que te dá certa recompensa (sem spoilers né? haha). Na prática, é a Nintendo colocando fases de Tower Defense na franquia.

Essas explorações são obrigatórias, embora, não precisa fazer todas.


PIKMIN 4 – UM GRANDE JOGO!

Somando as fases, as cavernas, e as explorações noturnas, você tem muita coisa pra fazer, e muita coisa diferente da outra. Quer explorar pra relaxar? Fica abrindo o mapa das fases, coletando tesouros, colhendo Pikmin…

Quer desafios intensos e rápidos? Batalhas Dandori. Quer um desafio mais longo? Cavernas de níveis. Quer algo totalmente inédito e diferenciado? Explorações noturnas.

Com tanta coisa pra fazer, Pikmin 4 se consagra como um daqueles jogos que costumamos dizer “ a hora passa e você não vê”, e talvez isso seja mérito da falta de pressão de tempo e recurso, por isso eu digo que ela funciona.

Além de tudo isso, ao fim de cada dia, você retorna pra sua base, e lá também é um mapinha interativo, onde falamos com os tripulantes do esquadrão.

Esses tripulantes que vamos salvando, dão missões secundárias como “colete 20 tesouros”, “derrote 12 tipos de inimigos”, etc, são missões que você completa naturalmente.Mas dois deles são importantes, pois são de melhorias, um deles para novas habilidades, e compra de itens e outro é exclusivo para o Oatchi, o seu cachorro companheiro, e que é ESSENCIAL nesse jogo (tanto que ele tem mais melhorias que o nosso protagonista, inclusive). Aprimorando, ele consegue nadar levando Pikmins de todo tipo nas costas, ele ataca, ele faz tudo. O Oatchi é tão presente, que infelizmente destaca a tristeza que é não ter um multiplayer local de tela dividida, pois dava muito bem pra um controlar o nosso protagonista, criado por nós, e o outro controlar o Oatchi.

Em vez disso, o multiplayer local se limita a uma segunda mira. Que ainda é válido, mas…fica a sensação de “poxa, poderia ser diferente”. Provavelmente o hardware do Switch não aguentaria rodar esse jogo em tela dividida com as fases incrivelmente detalhadas e belas que o jogo tem.

Beleza é destaque, Pikmin 4 tem um dos melhores gráficos do console, e mesmo sendo mais bonito na TV, obviamente, é impressionante como ele roda no portátil, com um gráfico de ponta e boa definição. É tipo…. Pikmin 4 no portátil é mais bonito que a maioria dos jogos na TV.

Em termos de enredo, o jogo é bem arcade, ele segue essa fórmula de “chegar numa fase, coletar tudo, derrotar tudo e entrar em cavernas”, mesmo assim, até que a história tem umas surpresas, principalmente pra quem é fã da franquia.

Mesmo não tendo um enredo muito bem desenvolvido, Pikmin 4 é DISPARADO, o jogo em PT-BR com mais texto já lançado pela Nintendo. Pequenos diálogos ocorrem a cada fim do dia, na base, nos desafios, nos arquivos dos menus, em tudo! O jogo tem muito texto, até porque, nooovamente, o jogo é bem longo.

Mas quão longo? Bom, o Pikmin 3, o mais longo até então, tinha entre 10 e 15 horas, umas 20 ali pra 100%.

Em Pikmin 4, nós finalizamos a missão princial, vendo então os créditos, em 18 horas, sem fazer 100% em todas as fases, sem fazer todas as expedições noturnas e sem completar as missões secundárias.

“Ah Coelho, então não é tão longo, é 5 horinhas a mais só, poh…” .

Então…. 5 horinhas a mais até os créditos, só que…. aí que tá… o jogo não termina com os créditos!

“Ah, então tem pós-game?” Meu amigo, não dá nem pra chamar de apenas “pós-game”

A Nintendo escondeu e está escondendo até agora essa informação, que é pra ser uma surpresa, então, não vamos revelar o que acontece ao fim do jogo, mas, sem entrar nos tais detalhes, você ainda vai jogar bastante Pikmin 4 após os créditos, viu…É bem seguro dizer que Pikmin 4 rende em torno de 25 a 30 horas, e isso mesmo pra quem não buscar 100%, quem buscar pode passar disso tranquilamente, então, concluindo… esse jogo é 2x maior que o anterior, que já era o maior até então!

É quando olhamos pra essa expansão de tamanho, e produção, que entendemos que o formato antigo não serviria… não dá pra sentir pressão constante por 25, 30 horas seguidas! O jogo mudou para ser maior e assim evoluir, afinal… talvez depois de Pikmin 3 que também é uma obra-prima, meio que as possibilidades do antigo formato foram esgotadas, sabem?


CONCLUSÃO

Sim, talvez você que seja fã de Pikmin, e se você for fã por conta das mecânicas que mudaram ou foram embora, como a pressão de tempo, recursos e perdas de pikmin, ainda vá preferir Pikmin 3, vocês vão ler comentários assim na internet.

É como Breath of the Wild, ele mudou Zelda, e mesmo sendo O MAIOR ZELDA até então….muita gente preferia o modelo antigo.

Fica claro que Pikmin 4 não é só o novo jogo de Pikmin, ele é UM NOVO Pikmin, ele aponta pra uma direção nova, maior e mais ambiciosa, elevando a franquia pra patamares onde, sinceramente, o formato antigo não conseguiria chegar.

Mas o ponto é que ele não deixa os fãs antigos na mão, as batalhas Dandori são puro Pikmin num formato frenético, as explorações noturnas adicionam um novo tipo de jogo de estratégia na série, e após os créditos, (prestem atenção nisso) ainda temos muito conteúdo onde o jogo entende que crianças novatas e/ou jogadores que querem apenas o raso, apenas uma experiência casual, já tiveram conteúdo suficiente, e a partir dali, o nível sobe.

Vale também mencionar que Pikmin 4 é um jogo onde o 100% pelo menos das fases, é muito, muito natural ! Você não tem aquela coisa de “só pra passar esforço 5, pra 100% esforço 10”, não, é bem claro o que tem no mapa, onde tem, e como agora o jogo está com muito menos pressão (quase nada), é gostoso voltar nas fases anteriores e limpar toda a área, diferente dos anteriores que você tinha medo de retornar e gastar recurso à toa.

E existe muito, muito mais pra se falar sobre esse jogo, a ponto dessa análise dobrar de tamanho. Mas eu tenho uma ideia melhor:

Caso você tenha chegado até o fim desse review, interessado pelo jogo…. jogue ! Existem muitas outras surpresas, mecânicas e momentos marcantes nele.

Como mencionamos, sim, Pikmin 4 é um AAA, ele vale o seu voucher ou os seus 60 dólares, que, aqui no Brasil, infelizmente, se traduz em 300 reais que é um valor muito alto, mas se você comprou e gostou de jogos como Luigi’s Mansion 3, Paper Mario, Kirby and the Forgotten Land, Metroid Dread e Astral Chain, pode ir seguro!

Pikmin agora é feito pra agradar todo tipo de jogador, não mais apenas os mais apaixonados fãs de RTS, da Nintendo ou do lado cult do Miyamoto.

– Na Precificação vs. Qualidade: Justo
– Performance: 5/5  (roda liso)
– Nota técnica: 9. Sendo muito bem polido, executado e dirigido, as únicas coisas que o afastam do 10 são o multiplayer, que não é o ideal, e o formato de progressão que é o mesmo em 80% do tempo.
– Tier da Experiência Geral e Veredito: S+ –  Elite do Console

Pikmin 4 se consagra como um dos melhores exclusivos do Switch,  e entra pra elite do console, sendo diferente com ousadia e ambição e levando a franquia pra um local mais alto do que os fãs pensavam que a série poderia chegar.

A review de hoje é muito especial e por diversos motivos. Primeiramente por ser de Pikmin (uma franquia que eu adoro), mas também por ser um MARCO na história do canal como a primeira análise de um jogo da Nintendo onde tive acesso muito antes do lançamento para realmente destrinchar o jogo e zerar ele podendo trazer a análise completa antes do lançamento para informar vocês.
Agradeço à Nintendo pela oportunidade, além de ser a análise do MAIOR jogo da Nintendo em português do Brasil.


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